segunda-feira, 14 de julho de 2008

Esquema de AULA dia 15 de Julho de 2008 - Terça Feira

Esquema de AULA dia 15 de Julho de 2008

Movimentos Sociais

* Conceito dos Movimentos Sociais
* Breve Histórico dos Movimentos;

a) Inicio do séc. XX - Revolução de 1917;
b) a fase da experiência soviética, dos movimentos como organizações de massa de trabalhadores.
c) a fase dos anos 60 e 70, quando surgem ou são relançados os “novos” movimentos sociais - libertação nacional, as revoluções chinesa e cubana;
d) a fase dos anos 80 e 90: derrota histórica com a queda da URSS e dos regimes do Leste Europeu; difusão das ONGs;
e) virada do século 21, quando ganha força a resistência contra o neoliberalismo.

* A sociedade excludente e os movimentos sociais;
* Movimento como inconveniente social;
* Movimento como expressão de resistência as exclusões sociais;
*A situação nacional dos movimentos sociais;
*A situação internacional e os movimentos sociais;
*O conceito de movimentos sociais populares;
*Problematização dos movimentos sociais brasileiro;

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Esquema de AULA dia 11 de Julho de 2008 SEXTA- FEIRA

Trabalho Infanto Juvenil


*Trabalho de crianças e adolescentes como extensão do trabalho dos adultos;
*Há cerca de 250 milhões de crianças trabalhadoras em todo o mundo. Destas 120 milhões trabalham em tempo integral.
*Segundo a OIT, na América Latina há 17 milhões de crianças trabalhando.
*Entre as regiões brasileiras o nordeste se destaca como a região de maior índice do trabalho infantil.
*O trabalho infantil significa atraso na vida escolar da criança e do adolescente.
*O trabalho da criança e do adolescente no Brasil está associada à condição da pobreza das famílias.
*O trabalho tem um efeito perverso na vida da criança e do adolescente.
*A diferença de trabalho infantil por gênero é um reflexo da sociedade.
*O trabalho infanto juvenil não pode ser considerado como um fenômeno universal mas sim plural.
*O trabalho infantil é um expressão da desigualdade social.


Atividade para casa!

*Pesquisar os principais movimentos sociais no Brasil.

terça-feira, 1 de julho de 2008

Max Weber



Max Weber nasceu e teve sua formação intelectual no período em que as primeiras disputas sobre a metodologia das ciências sociais começavam a surgir na Europa, sobretudo em seu país, a Alemanha. Filho de uma família da alta classe média, Weber encontrou em sua casa uma atmosfera intelectualmente estimulante. Seu pai era um conhecido advogado e desde cedo orientou-o no sentido das humanidades. Weber recebeu excelente educação secundária em línguas, história e literatura clássica. Em 1882, começou os estudos superiores em Heidelberg; continuando-os em Göttingen e Berlim, em cujas universidades dedicou-se simultaneamente à economia, à história, à filosofia e ao direito. Concluído o curso, trabalhou na Universidade de Berlim, na qual idade de livre-docente, ao mesmo tempo em que servia como assessor do governo. Em 1893, casou-se e; no ano seguinte, tornou-se professor de economia na Universidade de Freiburg, da qual se transferiu para a de Heidelberg, em 1896. Dois anos depois, sofreu sérias perturbações nervosas que o levaram a deixar os trabalhos docentes, só voltando à atividade em 1903, na qualidade de co-editor do Arquivo de Ciências Sociais (Archiv tür Sozialwissenschatt), publicação extremamente importante no desenvolvimento dos estudos sociológicas na Alemanha. A partir dessa época, Weber somente deu aulas particulares, salvo em algumas ocasiões, em que proferiu conferências nas universidades de Viena e Munique, nos anos que precederam sua morte, em 1920.



COMPREENSÃO E EXPLICAÇÃO

Dentro das coordenadas metodológicas que se opunham à assimilação das ciências sociais aos quadros teóricos das ciências naturais, Weber concebe o objeto da sociologia como, fundamentalmente, "a captação da relação de sentido" da ação humana. Em outras palavras, conhecer um fenômeno social seria extrair o conteúdo simbólico da ação ou ações que o configuram. Por ação, Weber entende "aquela cujo sentido pensado pelo sujeito jeito ou sujeitos jeitos é referido ao comportamento dos outros; orientando-se por ele o seu comportamento". Tal colocação do problema de como se abordar o fato significa que não é possível propriamente explicá-lo como resultado de um relacionamento de causas e efeitos (procedimento das ciências naturais), mas compreendê-lo como fato carregado de sentido, isto é, como algo que aponta para outros fatos e somente em função dos quais poderia ser conhecido em toda a sua amplitude.

O método compreensivo, defendido por Weber, consiste em entender o sentido que as ações de um indivíduo contêm e não apenas o aspecto exterior dessas mesmas ações. Se, por exemplo, uma pessoa dá a outra um pedaço de papel, esse fato, em si mesmo, é irrelevante para o cientista social. Somente quando se sabe que a primeira pessoa deu o papel para a outra como forma de saldar uma dívida (o pedaço de papel é um cheque) é que se está diante de um fato propriamente humano, ou seja, de uma ação carregada de sentido. O fato em questão não se esgota em si mesmo e aponta para todo um complexo de significações sociais, na medida em que as duas pessoas envolvidas atribuem ao pedaço de papel a função do servir como meio de troca ou pagamento; além disso, essa função é reconhecida por uma comunidade maior de pessoas.

Segundo Weber, a captação desses sentidos contidos nas ações humanas não poderia ser realizada por meio, exclusivamente, dos procedimentos metodológicos das ciências naturais, embora a rigorosa observação dos fatos (como nas ciências naturais) seja essencial para o cientista social. Contudo, Weber não pretende cavar um abismo entre os dois grupos de ciências. Segundo ele, a consideração de que os fenômenos obedecem a uma regularidade causal envolve referência a um mesmo esquema lógico de prova, tanto nas ciências naturais quanto nas humanas. Entretanto, se a lógica da explicação causal é idêntica, o mesmo não se poderia dizer dos tipos de leis gerais a serem formulados para cada um dos dois grupos de disciplinas. As leis sociais, para Weber, estabelecem relações causais em termos de regras de probabilidades, segundo as quais a determinados processos devem seguir-se, ou ocorrer simultaneamente., outros. Essas leis referem-se a construções de “comportamento com sentido” e servem para explicar processos particulares. Para que isso seja possível; Weber defende a utilização dos chamados “tipos ideais”, que representam o primeiro nível de generalização de conceitos abstratos e, correspondendo às exigências lógicas da prova, estão intimamente ligados à realidade concreta particular.

O LEGAL E O TÍPICO

O conceito de tipo ideal corresponde, no pensamento weberiano, a um processo de conceituação que abstrai de fenômenos concretos o que existe de particular, constituindo assim um conceito individualizante ou, nas palavras do próprio Weber, um “conceito histórico concreto”. A ênfase na caracterização sistemática dos padrões individuais concretos (característica das ciências humanas) opõe a conceituação típico-ideal à conceituação generalizadora, tal como esta é conhecida nas ciências naturais.
A conceituação generalizadora, como revela a própria expressão, retira do fenômeno concreto aquilo que ele tem de geral, isto é, as uniformidades e regularidades observadas em diferentes fenômenos constitutivos de uma mesma classe. A relação entre o conceito genérico e o fenômeno concreto é de natureza tal que permite classificar cada fenômeno particular de acordo com os traços gerais apresentados pelo mesmo, considerando como acidental tudo o que não se enquadre dentro da generalidade. Além disso, a conceituação generalizadora considera o fenômeno particular como um caso cujas características gerais podem ser deduzidas de uma lei.

A conceituação típico-ideal chega a resultados diferentes da conceituação generalizadora. O tipo ideal, segundo Weber, expõe como se desenvolveria uma forma particular de ação social se o fizesse racionalmente em direção a um fim e se fosse orientada de forma a atingir um e somente um fim. Assim, o tipo ideal não descreveria um curso concreto de ação, mas um desenvolvimento normativamente ideal, isto é, um curso de ação “objetivamente possível”. O tipo ideal é um conceito vazio de conteúdo real: ele depura as propriedades dos fenômenos reais desencarnando-os pela análise, para depois reconstruí-los. Quando se trata de tipos complexos (formados por várias propriedades), essa reconstrução assume a forma de síntese, que não recupera os fenômenos em sua real concreção, mas que os idealiza em uma articulação significativa de abstrações. Desse modo, se constitui uma “pauta de contrastação”, que permite situar os fenômenos reais em sua relatividade. Por conseguinte, o tipo ideal não constitui nem uma hipótese nem uma proposição e, assim, não pode ser falso nem verdadeiro, mas válido ou não-válido, de acordo com sua utilidade para a compreensão significativa dos acontecimentos estudados pelo investigador.

No que se refere à aplicação do tipo ideal no tratamento da realidade, ela se dá de dois modos. O primeiro é um processo de contrastação conceituai que permite simplesmente apreender os fatos segundo sua maior ou menor aproximação ao tipo ideal. O segundo consiste na formulação de hipóteses explicativas. Por exemplo: para a explicação de um pânico na bolsa de valores, seria possível, em primeiro lugar, supor como se desenvolveria o fenômeno na ausência de quaisquer sentimentos irracionais; somente depois se poderia introduzir tais sentimentos como fatores de perturbação. Da mesma forma se poderia proceder para a explicação de uma ação militar ou política. Primeiro se fixaria, hipoteticamente, como se teria desenvolvido a ação se todas as intenções dos participantes fossem conhecidas e se a escolha dos meios por parte dos mesmos tivesse sido orientada de maneira rigorosamente racional em relação a certo fim. Somente assim se poderia atribuir os desvios aos fatores irracionais.

Nos exemplos acima é patente a dicotomia estabelecida por Weber entre o racional e o irracional, ambos conceitos fundamentais de sua metodologia. Para Weber, uma ação é racional quando cumpre duas condições. Em primeiro lugar, uma ação é racional na medida em que é orientada para um objetivo claramente formulado, ou para um conjunto de valores, também claramente formulados e logicamente consistentes. Em segundo lugar, uma ação é racional quando os meios escolhidos para se atingir o objetivo são os mais adequados.

Uma vez de posse desses instrumentos analíticos, formulados para a explicação da realidade social concreta ou, mais exatamente, de uma porção dessa realidade, Weber elabora um sistema compreensivo de conceitos, estabelecendo uma terminologia precisa como tarefa preliminar para a análise das inter-relações entre os fenômenos sociais. De acordo com o vocabulário weberiano, são quatro os tipos de ação que cumpre distinguir claramente: ação racional em relação a fins, ação racional em relação a valores, ação afetiva e ação tradicional. Esta última, baseada no hábito, está na fronteira do que pode ser considerado como ação e faz Weber chamar a atenção para o problema de fluidez dos limites, isto é, para a virtual impossibilidade de se encontrarem “ações puras”. Em outros termos, segundo Weber, muito raramente a ação social orienta-se exclusivamente conforme um ou outro dos quatro tipos.


Do mesmo modo, essas formas de orientação não podem ser consideradas como exaustivas. Seriam tipos puramente conceituais, construídos para fins de análise sociológica, jamais encontrando-se na realidade em toda a sua pureza; na maior parte dos casos, os quatro tipos de ação encontram-se misturados. Somente os resultados que com eles se obtenham na análise da realidade social podem dar a medida de sua conveniência. Para qualquer um desses tipos tanto seria possível encontrar fenômenos sociais que poderiam ser incluídos neles, quanto se poderia também deparar com fatos limítrofes entre um e outro tipo. Entretanto, observa Weber, essa fluidez só pode ser claramente percebida quando os próprios conceitos tipológicos não são fluidos e estabelecem fronteiras rígidas entre um e outro. Um conceito bem definido estabelece nitidamente propriedades cuja presença nos fenômenos sociais permite diferenciar um fenômeno de outro; estes, contudo, raramente podem ser classificados de forma rígida.

O SISTEMA DE TIPOS IDEAIS

Na primeira parte de Economia e Sociedade, Max Weber expõe seu sistema de tipos ideais, entre os quais os de lei, democracia, capitalismo, feudalismo, sociedade, burocracia, patrimonialismo, sultanismo. Todos esses tipos ideais são apresentados pelo autor como conceitos definidos conforme critérios pessoais, isto é, trata-se de conceituações do que ele entende pelo termo empregado, de forma a que o leitor perceba claramente do que ele está falando. O importante nessa tipologia reside no meticuloso cuidado com que Weber articula suas definições e na maneira sistemática com que esses conceitos são relacionados uns aos outros. A partir dos conceitos mais gerais do comportamento social e das relações sociais, Weber formula novos conceitos mais específicos, pormenorizando cada vez mais as características concretas.

Sua abordagem em termos de tipos ideais coloca-se em oposição, por um lado, à explicação estrutural dos fenômenos, e, por outro, à perspectiva que vê os fenômenos como entidades qualitativamente diferentes. Para Weber, as singularidades históricas resultam de combinações específicas de fatores gerais que, se isolados, são quantificáveis, de tal modo que os mesmos elementos podem ser vistos numa série de outras combinações singulares. Tudo aquilo que se afirma de uma ação concreta, seus graus de adequação de sentido, sua explicação compreensiva e causal, seriam hipóteses suscetíveis de verificação. Para Weber, a interpretação causal correta de uma ação concreta significa que “o desenvolvimento externo e o motivo da ação foram conhecidos de modo certo e, ao mesmo tempo, compreendidos com sentido em sua relação”. Por outro lado, a interpretação causal correta de uma ação típica significa que o acontecimento considerado típico se oferece com adequação de sentido e pode ser comprovado como causalmente adequado, pelo menos em algum grau.

O CAPITALISMO É PROTESTANTE?

As soluções encontradas por Weber para os intrincados problemas metodológicos que ocuparam a atenção dos cientistas sociais do começo do século XX permitiram-lhe lançar novas luzes sobre vários problemas sociais e históricos, e fazer contribuições extremamente importantes para as ciências sociais. Particularmente relevantes nesse sentido foram seus estudos sobre a sociologia da religião, mais exatamente suas interpretações sobre as relações entre as idéias e atitudes religiosas, por um lado, e as atividades e organização econômica correspondentes, por outro.

Esses estudos de Weber, embora incompletos, foram publicados nos três volumes de sua Sociologia da Religião. A linha mestra dessa obra é constituída pelo exame dos aspectos mais importantes da ordem social e econômica do mundo ocidental, nas várias etapas de seu desenvolvimento histórico. Esse problema já se tinha colocado para outros pensadores anteriores a Weber, dentre os quais Karl Marx (1818-1883), cuja obra, além de seu caráter teórico, constituía elemento fundamental para a lufa econômica e política dos partidos operários; por ele mesmo criados. Por essas razões, a pergunta que os sociólogos alemães se faziam era se o materialismo histórico formulado por Marx era ou não o verdadeiro, ao transformar o fator econômico no elemento determinante de todas as estruturas sociais e culturais, inclusive a religião. Inúmeros trabalhos foram escritos para resolver o problema, substituindo-se o fator econômico como dominante por outros fatores, tais como raça, clima, topografia, idéias filosóficas, poder político. Alguns autores, como Wilhelm Dilthey, Ernst Troeltsch (1865-1923) e Werner Sombart (1863-1941), já se tinham orientado no sentido de ressaltar a influência das idéias e das convicções éticas como fatores determinantes, e chegaram à conclusão de que o moderno capitalismo não poderia ter surgido sem uma mudança espiritual básica, como aquela que ocorreu nos fins da Idade Média. Contudo, somente com os trabalhos de Weber foi possível elaborar uma verdadeira teoria geral capaz de confrontar-se com a de Marx.

A primeira idéia que ocorreu a Weber na elaboração dessa teoria foi a de que, para conhecer corretamente a causa ou causas do surgimento do capitalismo, era necessário fazer um estudo comparativo entre as várias sociedades do mundo ocidental (único lugar em que o capitalismo, como um tipo ideal, tinha surgido) e as outras civilizações, principalmente as do Oriente, onde nada de semelhante ao capitalismo ocidental tinha aparecido. Depois de exaustivas análises nesse sentido, Weber foi conduzido à tese de que a explicação para o fato deveria ser encontrada na íntima vinculação do capitalismo com o protestantismo: “Qualquer observação da estatística ocupacional de um país de composição religiosa mista traz à luz, com notável freqüência, um fenômeno que já tem provocado repetidas discussões na imprensa e literatura católicas e em congressos católicos na Alemanha: o fato de os líderes do mundo dos negócios e proprietários do capital, assim como os níveis mais altos de mão-de-obra qualificada, principalmente o pessoal técnica e comercialmente especializado das modernas empresas, serem preponderantemente protestantes”.

A partir dessa afirmação, Weber coloca uma série de hipóteses referentes a fatores que poderiam explicar o fato. Analisando detidamente esses fatores, Weber elimina-os, um a um, mediante exemplos históricos, e chega à conclusão final de que os protestantes, tanto como classe dirigente, quanto como classe dirigida, seja como maioria, seja como minoria, sempre teriam demonstrado tendência específica para o racionalismo econômico. A razão desse fato deveria, portanto, ser buscada no caráter intrínseco e permanente de suas crenças religiosas e não apenas em suas temporárias situações externas na história e na política.

Uma vez indicado o papel que as crenças religiosas teriam exercido na gênese do espírito capitalista, Weber propõe-se a investigar quais os elementos dessas crenças que atuaram no sentido indicado e procura definir o que entende por "espírito do capitalismo". Este é entendido por Weber como constituído fundamentalmente por uma ética peculiar, que pode ser exemplificada muito nitidamente por trechos de discursos de Benjamin Franklin (1706 - 1790), um dos líderes da independência dos Estados Unidos. Benjamin Franklin, representante típico da mentalidade dos colonos americanos e do espírito pequeno-burguês, afirma em seus discursos que “ganhar dinheiro dentro da ordem econômica moderna é, enquanto isso for feito legalmente, o resultado e a expressão da virtude e da eficiência de uma vocação”. Segundo a interpretação dada por Weber a esse texto, Benjamin Franklin expressa um utilitarismo, mas um utilitarismo com forte conteúdo ético, na medida em que o aumento de capital é considerado um fim em si mesmo e, sobretudo, um dever do indivíduo. O aspecto mais interessante desse utilitarismo residiria no fato de que a ética de obtenção de mais e mais dinheiro é combinada com o estrito afastamento de todo gozo espontâneo da vida.

A questão seguinte colocada por Weber diz respeito aos fatores que teriam levado a transformar-se em vocação uma atividade que, anteriormente ao advento do capitalismo, era, na melhor das hipóteses, apenas tolerada. O conceito de vocação como valorização do cumprimento do dever dentro das profissões seculares Weber encontra expresso nos escritos de Martinho Lutero (1483-1546), a partir do qual esse conceito se tornou o dogma central de todos os ramos do protestantismo. Em Lutero, contudo, o conceito de vocação teria permanecido em sua forma tradicional, isto é, algo aceito como ordem divina à qual cada indivíduo deveria adaptar-se. Nesse caso, o resultado ético, segundo Weber, é inteiramente negativo, levando à submissão. O luteranismo, portanto, não poderia ter sido a razão explicativa do espírito do capitalismo.

Weber volta-se então para outras formas de protestantismo diversas do luteranismo, em especial para o calvinismo e outras seitas, cujo elemento básico era o profundo isolamento espiritual do indivíduo em relação a seu Deus, ó que, na prática, significava a racionalização do mundo e a eliminação do pensamento mágico como meio de salvação. Segundo o calvinismo, somente uma vida guiada pela reflexão contínua poderia obter vitória sobre o estado natural, e foi essa racionalização que deu à fé reformada uma tendência ascética.

Com o objetivo de relacionar as idéias religiosas fundamentais do protestantismo com as máximas da vida econômica capitalista, Weber analisa alguns pontos fundamentais da ética calvinista, como a afirmação de que “o trabalho constitui, antes de mais nada, a própria finalidade da vida”. Outra idéia no mesmo sentido estaria contida na máxima dos puritanos, segundo a qual “a vida profissional do homem é que lhe dá uma prova de seu estado de graça para sua consciência, que se expressa no zelo e no método, fazendo com que ele consiga cumprir sua vocação”. Por meio desses exemplos, Weber mostra que o ascetismo secular do protestantismo “libertava psicologicamente a aquisição de bens da ética tradicional, rompendo os grilhões da ânsia de lucro, com o que não apenas a legalizou, como também a considerou como diretamente desejada por Deus”. E m síntese, a tese de Weber afirma que a consideração dó trabalho (entendido como vocação constante e sistemática) como o mais alto instrumento de ascese e o mais seguro meio de preservação da redenção da fé e do homem deve ter sido a mais poderosa alavanca da expressão dessa concepção de vida constituída pelo espírito do capitalismo.

É necessário, contudo, salientar que Weber, em nenhum momento considera o espírito do capitalismo como pura conseqüência da Reforma protestante. O sentido que norteia sua análise é antes uma proposta de investigarem que medida as influências religiosas participaram da moldagem qualitativa do espírito do capitalismo. Percorrendo o caminho inverso, Weber propõe-se também a compreender melhor o sentido do protestantismo, mediante o estudo dos aspectos fundamentais do sistema econômica capitalista. Tendo em vista a grande confusão existente no campo das influências entre as bases materiais, as formas de organização social e política e os conteúdos espirituais da Reforma, Weber salientou que essas influências só poderiam ser. confirmadas por meio de exaustivas investigações dos pontos em que realmente teriam ocorrido correlações entre o movimento religioso e a ética vocacional, Com isso “se poderá avaliar” - diz o próprio Weber – “em que medida os fenômenos culturais contemporâneos se originam historicamente em motivos religiosos e em que medida podem ser relacionados com eles”.

AUTORIDADE E LEGITIMIDADE

A aplicação da metodologia compreensiva à análise dos fenômenos históricos e sociais, por parte dê Weber, não sê limitou às relações entre o protestantismo ê o sistema capitalista. Inúmeros foram seus trabalhos dê investigação empírica sobre assuntos econômicos ê políticos. Entre os primeiros, salientam-se A Situação dos Trabalhadores Agrícolas no Elba ê A Psicofisiologia do Trabalho Industrial. Entre os segundos, devem ser ressaltadas suas análises críticas da seleção burocrática dos líderes políticos na Alemanha dos Kaiser Guilherme I e II ê da despolitização levada a cabo com a hegemonia dos burocratas. Para a teoria política em geral, contudo, foram mais importantes os conceitos ê categorias interpretativas que formulou e que se tornaram clássicos nas ciências sociais.


Weber distingue no conceito de política duas acepções, uma geral e outra restrita. No sentido mais amplo, política é entendida por ele como “qualquer tipo dê liderança independente em ação”. No sentido restrito, política seria liderança dê um tipo dê associação específica; em outras palavras, tratar-se-ia da liderança do Estado. Este, por sua vez, é defendido por Weber como “uma comunidade humana que pretende o monopólio do uso legítimo da força física dentro de determinado território". Definidos esses conceitos básicos, Weber é conduzido a desdobrar a natureza dos elementos essenciais quê constituem o Estado ê assim chega ao conceito dê autoridade ê dê legitimidade. Para quê um Estado exista, diz Weber, é necessário quê um conjunto dê pessoas (toda a sua população) obedeça à autoridade alegada pêlos detentores do poder no referido Estado. Por outro lado, para quê os dominados obedeçam é necessário quê os detentores do poder possuam uma autoridade reconhecida como legítima.

A autoridade pode ser distinguida segundo três tipos básicos: a racional-legal, a tradicional e a carismática. Esses três tipos dê autoridade correspondem a três tipos dê legitimidade: a racional, a puramente afetiva e a utilitarista. O tipo racional-legal tem como fundamento a dominação em virtude da crença na validade do estatuto legal e da competência funcional, baseada, por sua vez, em regras racionalmente criadas. A autoridade desse tipo mantém-se, assim, segundo uma ordem impessoal e universalista, e os limites de seus poderes são determinados pelas esferas de competência, defendidas pela própria ordem. Quando a autoridade racional-legal envolve um corpo administrativo organizado, toma a forma dê estrutura burocrática, amplamente analisada por Weber.

A autoridade tradicional é imposta por procedimentos considerados legítimos porquê sempre teria existido, e é aceita em nome de uma tradição reconhecida como válida. O exercício da autoridade nos Estados desse tipo é definido por um sistema dê status, cujos poderes são determinados, em primeiro lugar, por prescrições concretas da ordem tradicional ê, em segundo lugar, pela autoridade dê outras pessoas que estão acima dê um status particular no sistema hierárquico estabelecido. Os poderes são também determinados pela existência dê uma esfera arbitrária de graça, aberta a critérios variados, como os de razão de Estado, justiça substantiva, considerações dê utilidade e outros. Ponto importante é a inexistência de separação nítida entre a esfera da autoridade e a competência privada do indivíduo, fora de sua autoridade. Seu status é total, na medida em que seus vários papéis estão muito mais integrados do que no caso de um ofício no Estado racional-legal.

Em relação ao tipo de autoridade tradicional, Weber apresenta uma subclassificação em termos do desenvolvimento e do papel do corpo administrativo: gerontocracia e patriarcalismo. Ambos são tipos em que nem um indivíduo, nem um grupo, segundo o caso, ocupam posição de autoridade independentemente do controle de um corpo administrativo, cujo status e cujas funções são tradicionalmente fixados. No tipo patrimonialista de autoridade, as prerrogativas pessoais do "chefe" são muito mais extensas e parte considerável da estrutura da autoridade tende a se emancipar do controle da tradição.

A dominação carismática é um tipo de apelo que se opõe às bases de legitimidade da ordem estabelecida e institucionalizada. O líder carismático, em certo sentido, é sempre revolucionário, na medida em que se coloca em oposição consciente a algum aspecto estabelecido da sociedade em que atua. Para que se estabeleça uma autoridade desse tipo, é necessário que o apelo do líder seja considerado como legítimo por seus seguidores, os quais estabelecem com ele uma lealdade de tipo pessoal. Fenômeno excepcional, a dominação carismática não pode estabilizar-se sem sofrer profundas mudanças estruturais, tornando-se, de acordo com os padrões de sucessão que adotar e com a evolução do corpo administrativo, ou racional-legal ou tradicional, em algumas de suas configurações básicas.

Estruturalismo

CLAUDE LÉVI-STRAUSS E O ESTRUTURALISMO

O Estruturalismo é uma modalidade de pensar e um método de análise praticado nas ciências do século XX, especialmente nas áreas das humanidades. Metodologicamente, analisa sistemas em grande escala examinando as relações e as funções dos elementos que constituem tais sistemas, que são inúmeros, variando das línguas humanas e das práticas culturais aos contos folclóricos e aos textos literários. Partindo da Lingüística e da Psicologia do principio do século XX, alcançou o seu apogeu na época da Antropologia Estrutural, ao redor dos anos de 1960. O Estruturalismo fez do francês Claude Lévi-Strauss o seu mais celebrado representante, especialmente em seus estudos sobre os indígenas no Brasil e na América em geral, quando dedicou-se a “busca de harmonias insuspeitas”.

Uma das principais fontes do estruturalismo foi a escola psicológica inaugurada por Wilhelm Wund (1832-1920) que procurou determinar a estrutura da mente na tentativa de compreender os fenômenos mentais pela decomposição dos estados de consciência produzidos pelos estímulos ambientais. Para tanto, o psicólogo defendeu como linha de atuação o introspeccionismo (o “olhar para dentro”) na tentativa de fazer com que o pesquisador observasse e descrevesse minuciosamente suas sensações em função das características dos estímulos a que ele era submetido, afastado do relato tudo aquilo que fosse previamente conhecido. No campo da lingüistica, o trabalho do francês Ferdinand de Saussure (Cours de linguistique général, 1916, publicado pós-morte), empreendido apenas antes da Iª Guerra Mundial, serviu por muito tempo como o modelo e inspiração da corrente estruturalista de formação francesa.

A característica do estruturalismo, baseado no inquérito lingüístico de Saussure, centrou-se não no discurso próprio, mas nas regras e nas convenções subjacentes que permitiam a língua operar: qual a lógica que subjaze oculta por detrás da fala das gentes. Ao analisar a dimensão social ou coletiva da língua, ele abriu caminho e promoveu o estudo da gramática. Para melhor entendimento do estudo da linguagem separou-a em langue (língua, o sistema formal da linguagem que governa os eventos da fala) e a parole (palavra propriamente dita, o discurso, ou os eventos da fala). Saussure estava interessado na infra-estrutura da língua, aquilo que é comum a todos os falantes e que funciona em um nível inconsciente. Seu inquérito concentrou-se nas estruturas mais profundas da língua, mais do nos fenômenos de superfície, não fazendo nenhuma referência à evolução histórica dos idiomas.


O ESTRUTURALISMO - LÉVI-STRAUSS E A ANTROPOLOGIA



No campo dos estudos da antropologia e do mito, o trabalho foi levado a diante por Claude Lévi-Strauss, no período imediato à II Guerra Mundial, que divulgou e introduziu os princípios do estruturalismo para uma ampla audiência, alcançando uma influência quase que universal, fazendo com que o seu nome, o de Lévi-Strauss, não só se confundisse com o estruturalismo como se tornasse um sinônimo dele. O estruturalismo virou "moda" intelectual nos anos 60 e 70. Os livros dele ("O Pensamento Selvagem", Tristes Trópicos, Antropologia estrutural, As estruturas elementares do parentesco), tiveram um alcance que transcendeu em muito aos interesses dos especialistas ou curiosos da antropologia. Desde aquela época o estruturalismo de Lévi-Strauss tornou-se referência obrigatória na filosofia, na psicologia e na sociologia. De certo modo, ainda que respeitando a indiferença dele pela história ("o etnólogo respeita a história, mas não lhe dá um valor privilegiado", in O Pensamento Selvagem, 1970, pág.292), pode-se entender a antropologia estrutural como um método de tentar entender a história de sociedades que não a têm, como é o caso das sociedades primitivas.

Enquanto a ciência racionalista e positivista do século XIX desprezava a mitologia, a magia , o animismo e os rituais fetichistas em geral, Lévi-Strauss entendeu-as como recursos de uma narrativa da história tribal, como expressões legitimas de manifestações de desejos e projeções ocultas, todas elas merecedoras de serem admitidas no papel de matéria-prima antropológica. Como é o caso de seus estudos sobre o mito (Mythologiques) , cuja narrativa oral corria da esquerda para a direita num eixo diacrônico, num tempo não-reversível, enquanto que a estrutura do mito (por exemplo o que trata do nascimento ou da morte de um herói), sobe e desce num eixo sincrônico, num tempo que é reversível. Se bem que eles, os mitos, nada revelavam sobre a ordem do mundo, serviam muito para entender-se o funcionamento da cultura que o gerou e perpetuou. A mesma coisa aplica-se com o totemismo, poderoso instrumento simbólico do clã para reger o sistema de parentesco, regulando os matrimônios com a intenção de preservar o tabu do incesto (cada totem está associado a um grupo social determinado, a uma tribo ou clã, e todo o sistema de casamentos é estabelecido pelo entrecruzar dos que filiam-se a totens diferentes). O objetivo dele era provar que a estrutura dos mitos era idêntica em qualquer canto da Terra, confirmando assim que a estrutura mental da humanidade é a mesma, independentemente da raça, clima ou religião adotada ou praticada. Partindo-se das idéias de Saussure e do lingüista Roman Jakobson, e do antropólogo Lévi-Strauss, especificaram-se quatro procedimentos básicos ao estruturalismo: - Primeiro, a análise estrutural examina as infra-estruturas inconscientes dos fenômenos culturais; - em segundo, considera os elementos da infra-estrutura como "relacionados," não como entidades independentes; - em terceiro lugar, procura entender a coerência do sistema; - e quarta, propõe a contabilidade geral das leis para os testes padrões subjacentes no sentido da organização dos fenômenos.



A IMPORTÂNCIA DA NARRATIVA




Nos estudos humanísticos e literários em geral, o estruturalismo foi aplicado o mais eficazmente no campo do "narradologia." Esta disciplina, ainda nascente, estuda todas as narrativas, se elas ou não usam a língua, os mitos, as lendas, as novelas, a circulação das notícias, historias, esculturas de relevo e janelas, as pantominas e os estudos de caso psicológicos. Usando métodos e princípios do estruturalismo, os narradologistas analisam as características e as funções sistemáticas das narrativas tentando estabelecer e isolar um jogo de regras finito para esclarecer o jogo infinito de narrativas reais e possíveis. Começando-nos 1960, o crítico francês Roland Bartes e diversos outros narradologistas franceses, popularizaram o método, que tem desde então transformado um método de análise importante também nos Estados Unidos também.


ESTRUTURALISMO, MARXISMO E FREUDISMO


Ao avaliar as estruturas profundas, subjacentes, que se ocultam por detrás dos fenômenos, escapando do primeiro olhar humano, o estruturalismo aproxima-se das visões de Marx (a infra-estrutura econômica)e Freud (o poder do inconsciente). Ambos, como se sabe, entendiam os fenômenos sociais ou comportamentais como obrigatoriamente condicionados por forças impessoais (o Capitalismo, o Superego), deslocando, desde então, o problema do estudo da consciência ou das escolhas individuais para um quadro bem mais amplo, dos macro-sistemas. Ao contrário da ciência de inclinação liberal, para as correntes citadas acima, o indivíduo pouco contava. Tal como o marxismo e o freudismo, o estruturalismo diminui a importância do que é singular, subjetivo, individual, retratando o ser, a pessoa humana, como resultante de uma construção, a conseqüência de sistemas impessoais (no marxismo o indivíduo é marionete do sistema capitalista, na psicanálise, se bem que amparado no ego, ele é regido pelos impulsos do inconsciente, e na antropologia estrutural pelas relações de parentesco determinadas pelo totemismo). Os indivíduos, por conseguinte, nem produzem nem controlam os códigos e as convenções que regem e envolvem a existência social deles, sua vida mental ou experiência lingüística (É o que Marx quis dizer quando afirmou que “os homens fazem a história, mas não estão conscientes disso”). Em conseqüência desse descaso do estruturalismo pela importância da pessoa, ou do assunto, por ter feito o homem desaparecer na complexa teia da organização social em que nasce e a que pertence, foi considerado pelos seus críticos como um "anti-humanismo."

O ESTRUTURALISMO - A SEMIOLOGIA E A SEMIÓTICA


Tentando responder “o que é a palavra?”, que ele entendeu como um signo, formado por conceito e som (o significado e o significante), Saussure deu os primeiros passos para a emergência de uma disciplina nova, uma ciência dos sinais e dos sistemas dos sinais que ele nomeou como semiologia, para qual acreditou a lingüística estrutural poderia fornecer a principal metodologia. Mais tarde, nos Estados Unidos, batizaram-na de semiótica. Em 1961, Lévi-Strauss situou a antropologia estrutural dentro do domínio da "semiologia". Cada vez mais os termos de semiologia e da semiótica, ciência decorrente da semiologia, vieram a designar um campo do estudo que analisa sistemas, códigos, e convenções de sinal de todos os tipos: do ser humano às línguas do animal, do jargão das formas ao léxico do alimento, das regras da narrativa popular às que compõe os sistemas fonológicos, dos códigos da arquitetura e da medicina às convenções do mito e da literatura.



OS DERRADEIROS (PÓS-ESTRUTURALISTAS)



O termo semiótica substituiu gradualmente o de estruturalismo, e o surgimento da Associação Internacional para Estudos Semióticos, nos 1960s, solidificou ainda mais esta tendência. No momento em que a metodologia do estruturalismo estava se dissolvendo na disciplina da semiótica, uma reação crítica ocorreu, particularmente na França. Surgiram projetos de antítese da parte de cismáticos, tais como Gilles Deleuze com sua “esquisoanálise”, o desconstrucionismo” de Jacques Derrida e a “genealogia” de Michel Foucault, Estas escolas críticas foram, porém, consideradas como marginais e, depois, etiquetadas dentro do conceito muito amplo do pós-estruturalismo. Em ordem fotográfica: Michel Foucault, Gilles Deleuze, Jacques Derrida
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Teoria Funcionalista

EM QUE CONSISTE O MÉTODO?

Toda teoria pressupõe um conjunto de regras práticas que identificam o modo de selecionar as premissas teóricas e o modo de apresentar o arcabouço teórico. Vale dizer, a teorização implica em um método de aquisição de conhecimento e em um método de apresentação sistematizada desse conhecimento adquirido. Um conceito geral possível de método é o conjunto de processos e procedimentos, ordenados e coerentes entre si, tendentes a um fim. Esta definição mínima de método é suficiente para explicitar os três elementos básicos: conjunto de processos e procedimentos, ordenação e coerência interna e finalidade. Auguste Comte foi o teórico do positivismo, e fez deste um referencial metodológico, assim como Karl Marx fez o método de análise marxista e o Emille Durkheim fez o funcionalismo, ou O Método Teórico Funcionalista que estudaremos nesta unidade. Na sociologia para se compreender os problemas e as questões sociais é preciso ter método, o método se constitui através de questionamentos e sinalizações teóricas que busquem responder estes questionamentos:
A sociedade como um conjunto de elementos dinâmicos e diferenciados, é movida por questões e problemas. Os teóricos da sociologia e seu campo científico insurgiram para tentar compreender tais problemas que se manifestam na sociedade.


O MÉTODO DA SOCIOLOGIA FUNCIONALISTA

A sociologia funcionalista é hoje uma das mais difundidas nas sociedades capitalistas, em primeiro lugar nos Estados Unidos. O pensamento de Émile Durkheim foi retomado e desenvolvido especialmente por dois sociólogos americanos, Robert K. Merton e Talcott Parsons, sem dúvida os maiores responsáveis pelo desenvolvimento do funcionalismo moderno.
O funcionalismo, ao analisar qualquer elemento de um sistema social, procura saber de que maneira este elemento se relaciona com os outros elementos do mesmo sistema social e com o sistema social como um todo, para daí tirar as conseqüências que interferem no sistema, provocando sua disfunção, ou, por outro lado, contribuem para a sua manutenção, sendo, portanto, funcionais.
Estes conceitos foram desenvolvidos a partir do pensamento de Durkheim, que se esforçou para mostrar a existência própria e independente dos fatos sociais em relação aos indivíduos particulares. Durkheim chamou de consciência coletiva as formas padronizadas de conduta e de pensamento que se observa no interior de um grupo social: "Sem dúvida, é evidente que nada existe na vida social que não esteja nas consciências individuais; mas, quase tudo que se encontra nestas últimas vem da sociedade. A maior parte de nossos estados de consciência não seriam produzidos pelos indivíduos isolados, mas seriam produzidos pelos indivíduos agrupados de outra maneira. Eles derivam, portanto, não da natureza psicológica do homem em geral, mas da maneira segundo a qual os homens, uma vez associados, interagem mutuamente, dependendo de serem mais ou menos numerosos, de estarem mais ou menos próximos. Sendo produtos da vida em grupo, somente a natureza do grupo pode explicá-los"[1][27].
Citando ainda uma vez Peter Berger: "Segundo a perspectiva durkheimiana, viver em sociedade significa existir sob a dominação da lógica da sociedade. Com muita freqüência, as pessoas agem segundo essa lógica sem o perceber. Portanto, para descobrir essa dinâmica interna da sociedade, o método sociológico terá muitas vezes de desprezar as respostas que os próprios atores sociais dariam a suas perguntas e procurar as explicações de que eles próprios não se dão conta. Esta atitude essencialmente durkheimiana foi levada à abordagem teórica hoje chamada de funcionalismo. Na análise funcional, a sociedade é analisada em termos de seus próprios mecanismos como sistema, e que muitas vezes se apresentam obscuros ou opacos àqueles que atuam dentro do sistema"[2][28].
Segundo o pensamento de Durkheim, a função da sociologia “seria a de detectar e buscar soluções para os ‘problemas sociais’, restaurando a ‘normalidade social’ e se convertendo dessa forma numa técnica de controle social e de manutenção do poder vigente”, explica C. B. MARTINS[3][29].
Com efeito, no início do segundo capítulo de seu livro As regras do método sociológico, E. Durkheim define seu princípio metodológico fundamental: "A primeira regra e a mais fundamental é a de considerar os fatos sociais como coisas". Para acrescentar mais adiante, neste mesmo capítulo: "De fato, Comte proclamou que os fenômenos sociais são fatos naturais, submetidos a leis naturais. Reconheceu, assim, o seu caráter de coisas, visto que na natureza só há coisas"[4][30].
Michel Löwy observa que esta abordagem de Durkheim é perfeitamente homóloga à desenvolvida pela economia política burguesa e explica: "É aqui que provavelmente se encontram as raízes do naturalismo positivista enquanto discurso ideológico típico da nova ordem industrial (burguesa)". E, citando Durkheim, no texto La science et l'action, Paris, PUF, 1970, pp. 80-81, Michel Löwy acrescenta que "o próprio Durkheim apresenta a economia política como precursora da démarche positivista nas ciências sociais: 'Os economistas foram os primeiros a proclamar que as leis sociais são tão necessárias como as leis físicas. Segundo eles, é tão impossível a concorrência não nivelar pouco a pouco os preços... como os corpos não caírem de forma vertical.... Estenda este princípio a todos os fatos sociais e a sociologia estará fundada' "[5][31].
Ainda citando Durkheim, M. Löwy mostra que "desde os seus primeiros escritos em 1867, o pensamento de Durkheim exprime com precisão, clareza, coerência e rigor exemplares esta nova função social: 'É ainda ao professor de filosofia que cabe despertar nos espíritos que lhe são confiados a idéia do que é uma lei; de lhes fazer compreender que os fenômenos físicos e sociais são fatos como os outros, submetidos a leis que a vontade humana não pode interromper à sua vontade, e que, por conseqüência, as revoluções no sentido próprio do termo são coisas tão impossíveis como os milagres' "[6][32].
Finalmente, diz Löwy: "Entre as leis naturais da sociedade que seria vão, utópico, ilusório - em uma palavra: anticientífico - querer 'interromper' ou transformar, Durkheim situa com destaque a desigualdade social"[7][33]. Os argumentos estão na obra Da divisão do trabalho social, de 1893: as sociedades "são constituídas, não por uma repetição de segmentos semelhantes e homogêneos, mas por um sistema de órgãos diferentes, onde cada um tem um papel particular, sendo eles mesmos formados de partes diferenciadas". Isto é absolutamente normal, pois se encontra em qualquer organismo, como, por exemplo, "nos animais, [onde] a predominância do sistema nervoso sobre os outros sistemas se reduz ao direito, se se pode falar assim, de receber um alimento mais seleto e de receber sua parte antes dos outros"[8][34]. E ainda: "Pois, se nada entrava ou nada favorece injustamente os concorrentes que disputam entre as tarefas, é inevitável que apenas os que são os mais aptos a cada gênero de atividade a alcancem"[9][35].
O próprio Durkheim não faz segredo do conservadorismo do seu método positivista: "O nosso método não tem, portanto, nada de revolucionário. É até, num certo sentido, essencialmente conservador, uma vez que considera os fatos sociais como coisas cuja natureza, por mais elástica e maleável que seja, não é, no entanto, modificável à nossa vontade"[10][36].
Lendo esta afirmação, Michel Löwy chega, finalmente, ao âmago do problema quando diz que é inútil ficar discutindo, como o fazem alguns sociólogos hoje, quais são os elementos formais e doutrinários do conservadorismo de Durkheim: o seu problema está "na sua própria concepção do método. É seu método positivista que permite legitimar constantemente, através de argumentos científico-naturais, a ordem (burguesa) estabelecida". Isto lhe possibilita passar "sem hesitação das leis da seleção natural às 'leis naturais' da sociedade, e dos organismos vivos aos 'organismos sociais'". O apoio para este enfoque? "A homogeneidade epistemológica dos diferentes domínios e, por conseqüência, das ciências que os tomam como objeto"[11][37].
Raymond Aron, escrevendo em 1966, olha com desgosto para a sociologia funcionalista americana, herdeira deste pensamento, e classifica-a como essencialmente analítica e empírica. Multiplicando questionários para saber como vivem os homens em sociedade, transformando-se, deste modo, em mera sociografia, caricatura de uma autêntica ciência social, ela deixa de ser crítica, no sentido marxista do termo, não questionando a ordem social nos seus traços fundamentais e admitindo implicitamente a visão de mundo da sociedade norte-americana [38].

[1][27]. DURKHEIM, E., De la division de travail social, Paris, PUF, 1960, p. 342 ou em http://gallica.bnf.fr/Fonds_Frantext/T0088267.htm, p. 342.
[2][28]. BERGER, P., Perspectivas sociológicas. Uma visão humanista, pp. 50-51.
[3][29]. MARTINS, C. B., O que é sociologia, p. 50.
[4][30]. DURKHEIM, E., As regras do método sociológico, pp. 94 e 96.
[5][31]. LÖWY, M., As aventuras de Karl Marx contra o Barão de Münchhausen, p. 26.
[6][32]. Idem, ibidem, p. 27. Löwy cita o texto de DURKHEIM, E., La philosophie dans les Universités Allemandes, 1866-67, em Textes 3, Fonctions sociales et institutions, Paris, Ed. de Minuit 1975, p. 485. Esta é também a perspectiva funcionalista de Peter Berger, em Perspectivas sociológicas. Uma visão humanista, p. 58, quando diz que "a percepção sociológica é refratária a ideologias revolucionárias, não porque traga consigo alguma espécie de preconceito conservador, e sim porque ela enxerga não só através das ilusões do status quo atual como também através das expectativas ilusórias concernentes a possíveis futuros, sendo tais expectativas o costumeiro alimento espiritual dos revolucionários. Em nossa opinião, essa sobriedade não-revolucionária e moderadora da sociologia é altamente valiosa".


[7][33]. LÖWY, M., As aventuras de Karl Marx contra o Barão de Münchhausen, p. 27.
[8][34]. DURKHEIM, E., De la division de travail social, pp. 157-158.
[9][35]. Idem, ibidem, pp. 369-370.
[10][36]. DURKHEIM, E., As regras do método sociológico, em o. c., p. 74.
[11][37]. LÖWY, M., As aventuras de Karl Marx contra o Barão de Münchhausen, p. 29. O sublinhado no texto é de Michel Löwy.

Família Brasileira

Tela de Tarsila do Amaral - A FAMÍLIA



CONCEITO HISTÓRICO DE FAMÍLIA

O termo “família” é derivado do latim “famulus”, que significa “escravo doméstico”. Este termo foi criado na
Roma Antiga para designar um novo grupo social que surgiu entre as tribos latinas, ao serem introduzidas à agricultura e também na escravidão legalizada. No direito romano clássico a "família natural" cresce de importância - esta família é baseada no casamento e no vínculo de sangue. A família natural é o agrupamento constituído apenas dos cônjuges e de seus filhos. A família natural tem por base o casamento e as relações jurídicas dele resultantes, entre os cônjuges, e pais e filhos. Se nesta época predominava uma estrutura familiar patriarcal em que um vasto leque de pessoas se encontrava sob a autoridade do mesmo chefe, nos tempos medievais (Idade Média), as pessoas começaram a estar ligadas por vínculos matrimoniais, formando novas famílias. Dessas novas famílias fazia também parte a descendência gerada que, assim, tinha duas famílias, a paterna e a materna.

Com a Revolução Francesa surgiram os casamentos laicos no Ocidente e, com a Revolução Industrial, tornaram-se frequentes os movimentos migratórios para cidades maiores, construídas em redor dos complexos
industriais. Estas mudanças demográficas originaram o estreitamento dos laços familiares e as pequenas famílias, num cenário similar ao que existe hoje em dia. As mulheres saem de casa, integrando a população activa, e a educação dos filhos é partilhada com as escolas. Os idosos deixam também de poder contar com o apoio directo dos familiares nos moldes pré-Revoluções Francesa e Industrial, sendo entregues aos cuidados de instituições de assistência (MOREIRA, 2001, p22). Na altura, a família era definida como um “agregado doméstico (…) composto por pessoas unidas por vínculos de aliança, consanguinidade ou outros laços sociais, podendo ser restrita ou alargada”. Nesta definição, nota-se a ambiguidade motivada pela transição entre o período anterior às revoluções, representada pelas referências à família alargada, com a tendência reducionista que começava a instalar-se reflectida pelos vínculos de aliança matrimonial.

Na cultura ocidental, uma família é definida especificamente como um grupo de pessoas de mesmo
sangue, ou unidas legalmente (como no casamento e na adoção). Muitos etnólogos argumentam que a noção de "sangue" como elemento de unificação familiar deve ser entendida metaforicamente; dizem que em muitas sociedades e culturas não-ocidentais a família é definida por outros conceitos que não "sangue". A família poderia assim se constituir de uma instituição normalizada por uma série de regulamentos de afiliação e aliança, aceitos pelos membros. Alguns destes regulamentos envolvem: a exogamia, a endogamia, o incesto, a monogamia, a poligamia, e a poliandria.

A família vem-se transformando através dos tempos, acompanhando as mudanças religiosas, económicas e sócio-culturais do contexto em que se encontram inseridas. Esta é um espaço sócio-cultural que deve ser continuamente renovado e reconstruído; o conceito de próximo encontra-se realizado mais que em outro espaço social qualquer, e deve ser visto como um espaço político de natureza criativa e inspiradora.
Engels em seu livro Origem da família da propriedade privada e do estado, faz uma ligação da família com a produção material,utilizando do materialismo-hitórico-dialético,relacionou a monogamia como "propriedade privada da mulher".


A FAMILIA COMO UM GRUPO SOCIAL

Como já indicamos anteriormente a palavra "família" deriva do verbete latino "famulus" = 'domésticos, servidores,
escravos, séquito, comitiva, cortejo, casa, família'. A família representa um grupo social primário que influencia e é influenciado por outras pessoas e instituições. É um grupo de pessoas, ou um número de grupos domésticos ligados por descendência (demonstrada ou estipulada) a partir de um ancestral comum, matrimónio ou adoção. Nesse sentido o termo confunde-se com clã. Dentro de uma família existe sempre algum grau de parentesco. Membros de uma família costumam compartilhar do mesmo sobrenome, herdado dos ascendentes directos. A família é unida por múltiplos laços capazes de manter os membros moralmente, materialmente e reciprocamente durante uma vida e durante as gerações.

Podemos então, definir família como um conjunto invisível de exigências funcionais que organiza a interação dos membros da mesma, considerando-a, igualmente, como um sistema, que opera através de padrões transacionais. Assim, no interior da família, os indivíduos podem constituir subsistemas, podendo estes ser formados pela
geração, sexo, interesse e/ ou função, havendo diferentes níveis de poder, e onde os comportamentos de um membro afetam e influenciam os outros membros. A família como unidade social, enfrenta uma série de tarefas de desenvolvimento, diferindo a nível dos parâmetros culturais, mas possuindo as mesmas raízes universais (MINUCHIN,1990).

ESTRUTURAS FAMILIARES

A família assume uma estrutura característica. Por estrutura entende-se, “uma forma de organização ou disposição de um número de componentes que se inter-relacionam de maneira específica e recorrente” (WHALEY e WONG, 1989; p. 21). Deste modo, a estrutura familiar compõe-se de um conjunto de indivíduos com condições e em posições, socialmente reconhecidas, e com uma interacção regular e recorrente também ela, socialmente aprovada. A família pode então, assumir uma estrutura nuclear ou conjugal, que consiste num homem, numa mulher e nos seus filhos, biológicos ou adoptados, habitando num ambiente familiar comum. A estrutura nuclear tem uma grande capacidade de adaptação, reformulando a sua constituição, quando necessário.

Existem também famílias com uma estrutura de pais únicos ou
monoparental, tratando-se de uma variação da estrutura nuclear tradicional devido a fenômenos sociais, como o divórcio, óbito, abandono de lar, ilegitimidade ou adopção de crianças por uma só pessoa. A família ampliada ou consanguínea é outra estrutura, que consiste na família nuclear, mais os parentes directos ou colaterais, existindo uma extensão das relações entre pais e filhos para avós, pais e netos. Para além destas estruturas, existem também as denominadas de famílias alternativas, sendo elas as famílias comunitárias e as famílias homossexuais.

As
famílias comunitárias, ao contrário dos sistemas familiares tradicionais, onde a total responsabilidade pela criação e educação das crianças se cinge aos pais e à escola, nestas famílias, o papel dos pais é descentralizado, sendo as crianças da responsabilidade de todos os membros adultos. Nas famílias homossexuais existe uma ligação conjugal ou marital entre duas pessoas do mesmo sexo, que podem incluir crianças adoptadas ou filhos biológicos de um ou ambos os parceiros. Quanto ao tipo de relações pessoais que se apresentam numa família, Lévi-Strauss, refere três tipos de relação. São elas, a de aliança (casal), a de filiação (pais e filhos) e a de consanguinidade (irmãos). É nesta relação de parentesco, de pessoas que se vinculam pelo casamento ou por uniões sexuais, que se geram os filhos.

Segundo Atkinson e Murray, a família é um sistema social uno, composto por um grupo de indivíduos, cada um com um papel atribuído, e embora diferenciados, consubstanciam o funcionamento do sistema como um todo. O conceito de família, ao ser abordado, evoca obrigatoriamente, os conceitos de papéis e funções, como se têm vindo a verificar. Em todas as famílias, independentemente da sociedade, cada membro ocupa determinada posição ou tem determinado estatuto, como por exemplo, marido, mulher, filho ou irmão, sendo orientados por papéis. Papéis estes, que não são mais do que, “as expectativas de comportamento, de obrigações e de direitos que estão associados a uma dada posição na família ou no grupo social” (STANHOPE, 1999; p. 502).

Relativamente aos papéis dos irmãos, estes são promotores e receptores, em simultâneo, do processo de socialização na família, ajudando a estabelecer e manter as normas, promovendo o desenvolvimento da cultura familiar. “Contribuem para a formação da identidade uns dos outros servindo de defensores e protectores, interpretando o mundo exterior, ensinando os outros sobre equidade, formando alianças, discutindo, negociando e ajustando mutuamente os comportamentos uns dos outros” (Idem; p. 502). Há a salientar, relativamente aos papéis atribuídos que, será ideal que exista alguma flexibilidade, assim como, a possibilidade de troca ocasional desses mesmos papéis, aquando, por exemplo, um dos membros não possa desempenhar o seu.

FUNÇÕES DE FAMÍLIA


Na série de desenho Os Simpsons, que realiza uma satíra da família americana, todos possuem papel definido, Os Simpsons, podem servir como ilustração de uma família tradicional, em que só o pai trabalha, e a mãe fica em casa cuidando da prole; um outro fato interessante é o olhar disciplonador que Os Simpsons possuem com a filha enquanto o Bart Simpson, único filho homem, pode fazer tudo livremente.

Como os papéis, as funções estão igualmente implícitas nas famílias, como já foi referido. As famílias como agregações sociais, ao longo dos tempos, assumem ou renunciam funções de proteção e socialização dos seus membros, como resposta às necessidades da sociedade pertencente. Nesta perspectiva, as funções da família regem-se por dois objectivos, sendo um de nível interno, como a protecção psicossocial dos membros, e o outro de nível externo, como a acomodação a uma cultura e sua transmissão. A família deve então, responder às mudanças externas e internas de modo a atender às novas circunstâncias sem, no entanto, perder a continuidade, proporcionando sempre um esquema de referência para os seus membros (MINUCHIN, 1990). Existe consequentemente, uma dupla responsabilidade, isto é, a de dar resposta às necessidades quer dos seus membros, quer da sociedade (STANHOPE, 1999).

Para SERRA (1999), a família tem como função primordial a de protecção, tendo sobretudo, potencialidades para dar apoio emocional para a resolução de problemas e conflitos, podendo formar uma barreira defensiva contra agressões externas. FALLON [et al.] reforça ainda que, a família ajuda a manter a saúde física e mental do indivíduo, por constituir o maior recurso natural para lidar com situações potenciadoras de stress associadas à vida na comunidade. Deste modo, “(...) a família constitui o primeiro, o mais fundante e o mais importante grupo social de toda a pessoa, bem como o seu quadro de referência, estabelecido através das relações e identificações que a criança criou durante o desenvolvimento” (VARA, 1996; p. 8), tornando-a na
matriz da identidade.

Fonte:. http://pt.wikipedia.org/wiki/Familia

Referências
ALVES, José Carlos Moreira. Direito Romano. Rio: Forense, 1977.
MINUCHIN, Salvador – Famílias: Funcionamento & Tratamento. Porto Alegre: Artes Médicas, 1990. p. 25-69.
SARACENO, Chiara – Sociologia da Família, Lisboa: Estampa, 1997.
STANHOPE, Marcia – Teorias e Desenvolvimento Familiar. In STANHOPE, Marcia ; LANCASTER, Jeanette – Enfermagem Comunitária: Promoção de Saúde de Grupos, Famílias e Indivíduos. 1.ª ed. Lisboa : Lusociência, 1999.
ISBN 972-8383-05-3. p. 492-514.

FAMÍLIA BRASILEIRA


Até recentemente, o modelo de família brasileira correspondia ao modelo patriarcal caracterizado pela consangüinidade e hierarquização de valores, a hierarquia entre os membros da família e a idéia de posse dos pais em relação aos filhos dependentes. Constituem-se aspectos que ainda caracterizam o modelo de família contemporânea brasileira o estabelecimento de normas e regras mais ou menos rígidas, inclusive tendo a dependência como função importante na fertilidade desse terreno; transmitem-se valores, conceitos, costumes, padrões e cultura. Todavia, a Constituição Federal de 1988 representou um avanço no que diz respeito ao conceito de família, considerando a união estável entre o homem e a mulher, bem como a convivência do grupo formado por um dos pais e seus descendentes, como entidades familiares (Art. 226, p. 3º e 4º).
Segundo a Organização Panamericana de Saúde (OPS/OMS), a família desempenha as seguintes funções:
Reprodução e regulação sexual - garantindo a perpetuação da espécie;
Socialização e função educativa - transmitindo a cultura, valores e costumes através das gerações;
Manutenção e produção de recursos de subsistência - determinando a divisão do trabalho de seus membros e condicionando a contribuição para a vida econômica da sociedade.
As nossas famílias contemporâneas guardam muitas nuances do que se pode caracterizar como modelo burguês de família: patriarcal, autoritário, monogâmico, primando pela privacidade, à domesticidade e os conflitos entre sexo e idade. Vários são os conceitos, embora haja convergência entre eles em algum ponto. Todavia, em que pesem os momentos de crise por que passou e passa a sociedade, a entidade familiar tem demonstrado grande capacidade de resistência e de adaptação no que concerne à manutenção do ideal da ordem social, apesar de, por vezes, fragmentada e redimensionada.
A família desempenha um papel primordial na transmissão de cultura. Se as tradições espirituais, a manutenção dos ritos e dos costumes, a conservação das técnicas e do patrimônio são com ela disputadas por outros grupos sociais, a família prevalece na primeira educação, na repressão dos instintos, na aquisição da língua acertadamente materna. Com isso, ela preside os processos fundamentais do desenvolvimento psíquico. A expectativa dos segmentos conservadores da sociedade é de que a família cumpra o papel de transmitir normas e valores sociais que compõem a ideologia dominante naquele momento histórico. Esse caráter perpassa o processo de convivência em família e a perspectiva de vida de cada família e sua colocação na sociedade. Esse ideal, embora imaginário, mantém o grupo familiar coeso, na prática da realidade. O aprendizado do respeito, obediência e submissão aos pais devem ser reproduzidos para o meio externo, aos mais velhos, aos professores e ao Estado, de modo a não criar problemas nas relações sociais.
O estudo em torno da entidade familiar nem sempre produz idéias unânimes e harmoniosas. Por vezes, suscita polêmicas acirradas. Segundo Prado (1995): “A família, como toda instituição social, apresenta aspectos positivos, enquanto núcleo afetivo, de apoio e solidariedade. Mas apresenta, ao lado destes, aspectos negativos, como a imposição de normas e finalidades rígidas. Torna-se, muitas vezes, elemento de coação social, geradora de conflitos e ambigüidades.” Estudos recentes estabelecem um consenso sobre a idéia de que é impossível abolir-se o conflito sob o pretexto da harmonia total, mesmo porque este estado simplesmente paralisaria o movimento incessante da condição humana e suas relações sociais. Nessa perspectiva, o conflito adquire uma dimensão criadora e não destrutiva, não obstante, algumas demolições imponham-se como necessárias dentro do processo de construção de um novo modelo de família.
De acordo com Cartana (apud MAURO, 1998), a família é um sistema semi-aberto, composto por indivíduos ligados por compromisso mútuo (geralmente afetivo) que interagem entre si no desempenho de papéis, e nesse processo, os membros da família transmitem para as gerações futuras a sua cultura, hábitos e modo de vida. Já segundo Prado (1995), família é uma instituição social, variando através da história e apresentando até formas e finalidades diversas numa mesma época e lugar.
Porém, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) estabelece: "entende-se por família natural a comunidade formada pelos pais ou qualquer deles e seus descendentes" (Art. 25).
Ao tornarem-se adolescentes, esse indivíduos sentem necessidade de tornarem-se independentes de seus pais; tornarem-se seres com identidades próprias, vontades e projetos que os representam, mesmo que para isso tenham que contrariá-los. Alguns estudiosos afirmam que o fato de contrariar os pais faz parte do processo de construção da sua própria identidade. Sem precisar radicalizar nesse particular, acreditamos na busca de identidade, sem que para isso o adolescente tenha que romper com a família. Um certo grau de confronto com os pais é comum nesse processo de construir-se a si mesmo, uma vez que a ausência de tais sinais e a perpetuação da dependência são temas de preocupação na relação do adolescente com a família.
Na realidade, ao desenvolver o pensamento, a lógica e a crítica, o adolescente descobre que o mundo não pode mais ser visto através dos olhos dos pais na infância: um mundo harmonioso e colorido no qual, independente do que ocorresse, eles estariam protegidos. Desfaz-se a fantasia dos pais onipotentes, já que não conseguem satisfazer seus anseios e aliviar suas angústias. Ao encontrar outros adolescentes com experiências semelhantes, desloca o eixo de referência para os pares, que em geral, constituem os grupos.
Nesse particular, têm sido motivos de inquietação dos pais a rebeldia do adolescente, o labilidade de humor, o risco que a influência dos amigos pode representar, os problemas escolares e o início da atividade sexual. Nesse processo não se pode falar de sofrimento apenas do filho adolescente. Os pais têm uma sensação de impotência; perdem o poder de decidir por eles, que escolhem o que acreditam ser melhor; colocam-se diante do fato de que o tempo passou, estão mais velhos e na perspectiva de que ficarão sós porque os filhos estão trilhando novos caminhos. Sentem-se substituídos pelos amigos e pelo(a) namorado(a). Seus conceitos são, frequentemente, considerados ultrapassados e sua lógica, não aplicável nos tempos modernos. Apesar disso, não podem perder de vista que continuam sendo família, o ancoradouro para os momentos difíceis em que o meio externo e o grupo não dão conta, e que deve continuar exercendo o apoio, o carinho, a vigilância e a orientação.
Na abordagem à família como um dos espaços do adolescer, deve-se incluir, entre outras questões, a atenção para com o trabalho infanto-juvenil, condições de habitação, segurança, alimentação, esporte, lazer, educação, os direitos sexuais e reprodutivos, a prevenção e o combate ao uso de substâncias psicoativas, prevenção e manejo de situações de violência. A família é parte de uma comunidade constituída de outras famílias, que possui potenciais recursos a serem explorados. O suprimento de todas essas necessidades, entretanto, deve estar inserido dentro de um plano mais amplo que é o da construção da cidadania, a partir da maximização do potencial dos membros da família até que se atinja a condição de família cidadã e, conseqüentemente, de uma comunidade saudável. O conjunto de várias famílias cidadãs determina uma comunidade saudável.
NOTAS PARA DISCUSSÃO

Jornal A FOLHA DE SÃO PAULO - Opinião pública
Disponível:.
http://datafolha.folha.uol.com.br/po/dossie_familia_10111997a.shtml
A Familia Brasileira
Estudar a família brasileira e suas eventuais variações de estrutura e organização exige cautela. A antropóloga Cynthia A . Sarti em seu artigo para "A família Contemporânea Em Debate" sugere elementos que podem compor esse terreno movediço. Segundo ela, a exposição do indivíduo às possíveis transformações dos panoramas social, político, cultural, econômico e biológico alteram os códigos e valores utilizados na interpretação da realidade. Como no mundo contemporâneo a velocidade dessas mudanças é mais expressiva, para uma leitura segura de dados referentes ao tema, tais considerações devem ser potencializadas.
Pesquisa nacional realizada pelo Datafolha entre os dias 12 e 18 de fevereiro investiga a influência desses aspectos sobre o conceito da família brasileira e aponta tendências de conduta e comportamento diante de algumas situações. Por meio das variáveis incluídas no levantamento, também é possível se chegar a um cenário dos níveis de relacionamento em diversos segmentos. As estratificações procuram apontar contrastes de opinião com base nas experiências de cada entrevistado, classificando-os segundo suas condições atuais e localizando-os no tempo pela década na qual viveram sua juventude. As conjunturas correspondentes às épocas propostas nos cruzamentos auxiliam a compreensão de algumas conclusões.
O primeiro resultado que salta aos olhos já justifica a realização da pesquisa: a família, atualmente, é uma das instituições sociais mais valorizadas pelos brasileiros. Numa escala de grau de importância, a maioria a remete à categoria do extremo positivo. Mas, o interessante é discriminar sobre quais bases essa instituição se sustenta e o conceito que a mantém. Os dogmas seriam os mesmos de 10 ou 20 anos atrás? Apesar de detectar algumas mudanças, o estudo traz de volta velhas questões que ultimamente vinham sendo tratadas, senão como definitivamente resolvidas, pelo menos como ultrapassadas. O melhor exemplo é o papel da mulher dentro da família. A constituição básica da família brasileira ainda é nuclear (marido, esposa e filhos), mas esse tipo de estrutura vem perdendo espaço para o esquema matrifocal (percebe-se entre os mais jovens uma elevada taxa de entrevistados que moram apenas com suas mães). Considerando-se tal constatação, é fácil identificar o motivo do crescente prestígio da figura materna e a conseqüente queda na importância atribuída ao pai. No decorrer da análise é possível observar reflexos do panorama gerado por esses dados: entre os integrantes das novas gerações, a valorização dos "laços de sangue" e do casamento ficam abaixo da média; o pai é a pessoa da família com quem menos se conversa; as jovens de hoje procuram muito mais maridos fiéis e compreensivos do que trabalhadores e arrimos. Esses resultados, que podem corroborar as conquistas femininas das últimas décadas, acabam camuflando a resistência expressiva da sociedade em aceitá-las. A grande maioria dos brasileiros prefere que, diante de uma situação financeira favorável, as mulheres fiquem em casa, cuidando dos filhos a que elas saiam para trabalhar fora. Quanto aos códigos de conduta, a cobrança focalizada na mulher é muito mais rígida do que a dirigida aos homens (aceita-se muito mais o pai trair a mãe do que o contrário). A mesma tendência ocorre quando o assunto é a independência feminina. O percentual dos que a aprovam é duas vezes menor daquele que se observada em relação ao homem. Na prática, porém, essa opinião não se estabelece: as mulheres acabam saindo da casa dos pais mais cedo do que os homens. Já nos cruzamentos das perguntas por variáveis sócio-demográficas, destacam-se os contrastes observados nos segmentos de faixa etária. A geração 90, com idade entre 16 e 24 anos, condena muito mais o aborto e a gravidez antes do casamento do que a geração 70, que têm entre 35 e 44 anos. No geral, quando o tema é sexualidade, a geração 70 tende a ser mais liberal. Por outro lado, a geração 90 é mais tolerante às drogas e à violência do que qualquer outro estrato. Os jovens de hoje também preferem o diálogo ao conselho, não formalizam suas uniões e estão tendo filhos mais cedo. Mas nem tudo é conflito. Os brasileiros aprovam o relacionamento que têm com as pessoas de casa, reúnem a família para assistir TV e almoçar nos fins de semana, supervalorizam a fidelidade, costumam falar sobre sexo com seus cônjuges, sobre futebol com os pais, sobre os vizinhos com a mãe e , como não poderia deixar ser, se contradizem em determinados pontos. Apesar de não atribuírem muita importância ao casamento e não considerarem o fato de ter filhos fundamental para a felicidade de um casal, a grande maioria quer viver tais experiências.

A família vem em primeiro lugar na vida dos brasileiros.
Apesar da maioria valorizar a família, apenas 31% classificam o casamento como muito importante.
A maioria dos brasileiros enfatiza a importância da família em suas vidas, mas não demonstra a mesma simpatia pelo casamento. Em um ranking de valores, elaborado pelo Datafolha, a família fica na primeira colocação, empatada com o tópico educação. Ainda foram incluídos no levantamento fatores como trabalho, religião, dinheiro, casamento e lazer. O entrevistado foi solicitado a classificar os itens segundo o grau de importância que atribuía a cada um deles: Família e estudo são considerados muito importantes por 61% dos brasileiros. Em terceiro lugar, com 56%, aparece o trabalho. Na quarta colocação fica a religião, com 38%. A importância do dinheiro é enfatizada por 36%.




Em relação ao casamento, essa taxa é de apenas 31%. O lazer aparece em último lugar, com 28%. A valorização da família é mais expressiva entre as mulheres (64% contra 57% entre os homens), os mais jovens (63%), os que possuem renda familiar de 10 a 20 salários mínimos (72%), os que têm escolaridade acima da média (71%) e os que se declaram descendentes de alemães (75%). É interessante notar que entre os separados, o grau de importância atribuído ao estudo e ao trabalho (64% e 60%, respectivamente) supera o da família (57%). Já, entre os viúvos e casados , ela vem em primeiro lugar.
Pode-se observar também que quanto maior o número de filhos, menor é o grau de importância atribuído à família. No estrato dos que têm cinco filhos ou mais, o estudo e o trabalho a superam em quatro e dois pontos percentuais, respectivamente. O casamento, que fica na penúltima colocação do ranking , encontra suas taxas mais expressivas de valorização entre os que moram nas cidades do interior (33% contra 28% dos que habitam as regiões metropolitanas), entre os que se dizem descendentes de espanhóis (38%), entre os homens (33% contra 29% entre as mulheres), entre os que hoje são viúvos (40%) e entre os que têm filhos (33%). Entre os casados, essa taxa é de 36% e entre os separados, ela cai para apenas 21%.
Focalizando-se as diferentes gerações contempladas no estudo, definidas com base na década em que os entrevistados completaram 16 anos, nota-se que a partir dos anos 70, a percepção de importância da família cresce significativamente. As gerações de 80 e 90 tendem a valorizá-la com maior ênfase (64% e 63%, respectivamente). Por outro lado, o casamento encontra simpatizantes mais freqüentes nas gerações anteriores. Entre os que foram jovens nos anos 40 ou anteriormente, o índice de importância do casamento chega a 45%, caindo para 28% nos anos 70 e 30% entre os integrantes da geração 90.

Émile Durkheim




Texto Organizado pelo Professor Antonio Mateus de Carvalho Soares, através de pesquisa em livros e na Internet.


Émile Durkheim é considerado um dos pais da sociologia moderna. Durkheim foi o fundador da escola francesa de sociologia, posterior a Mafuso, que combinava a pesquisa empírica com a teoria sociológica. É reconhecido amplamente como um dos melhores teóricos do conceito da coesão social. Partindo da afirmação de que "os fatos sociais devem ser tratados como coisas", forneceu uma definição do normal e do patológico aplicada a cada sociedade, em que o normal seria aquilo que é ao mesmo tempo obrigatório para o indivíduo e superior a ele, o que significa que a sociedade e a consciência coletiva são entidades morais, antes mesmo de terem uma existência tangível. Essa preponderância da sociedade sobre o indivíduo deve permitir a realização desse, desde que consiga integrar-se a essa estrutura.

Para que reine certo consenso nessa sociedade, deve-se favorecer o aparecimento de uma
solidariedade entre seus membros. Uma vez que a solidariedade varia segundo o grau de modernidade da sociedade, a norma moral tende a tornar-se norma jurídica, pois é preciso definir, numa sociedade moderna, regras de cooperação e troca de serviços entre os que participam do trabalho coletivo (preponderância progressiva da solidariedade orgânica). A sociologia fortaleceu-se graças a Durkheim e seus seguidores. Suas principais obras são: Da divisão social do trabalho (1893); Regras do método sociológico (1895); O suicídio (1897); As formas elementares de vida religiosa (1912). Fundou também a revista L'Année Sociologique, que afirmou a preeminência durkheimiana no mundo inteiro.

Por sua vez, E. Durkheim, em Da Divisão do Trabalho Social, de 1893, coloca duas questões sobre as relações entre os indivíduos e a coletividade[1][16]:
 Como pode um conjunto de indivíduos constituírem uma sociedade?
 Como este conjunto de indivíduos consegue obter um consenso para a convivência?
Segundo Durkheim, duas formas de solidariedade social podem ser constatadas: a solidariedade mecânica, típica das sociedades pré-capitalistas, onde os indivíduos se identificam através da família, da religião, da tradição, dos costumes. É uma sociedade que tem coerência porque os indivíduos ainda não se diferenciam.
Reconhecem os mesmos valores, os mesmos sentimentos, os mesmos objetos sagrados, porque pertencem a uma coletividade. E a solidariedade orgânica, característica das sociedades capitalistas, onde, através da divisão do trabalho social, os indivíduos tornam-se interdependentes, garantindo, assim, a união social, mas não pelos costumes, tradições etc. Os indivíduos não se assemelham, são diferentes e necessários, como os órgãos de um ser vivo. Assim, o efeito mais importante da divisão do trabalho não é o aumento da produtividade, mas a solidariedade que gera entre os homens.
Algumas idéias fundamentais decorrem desta análise, como o conceito de consciência coletiva: "O conjunto de crenças e de sentimentos comuns entre os membros de uma mesma sociedade, forma um sistema determinado que tem sua vida própria; podemos chamá-la de consciência coletiva ou comum. Sem dúvida, ela não tem como substrato um órgão único; é, por definição, difusa, ocupando toda a extensão da sociedade; mas nem por isso deixa de ter características específicas, que a tornam uma realidade distinta. Com efeito, ela é independente das condições particulares em que se situam os indivíduos. Estes passam, ela fica. É a mesma no Norte e no Sul, nas grandes e nas pequenas cidades, nas diferentes profissões. Por outro lado, não muda em cada geração, mas ao contrário liga as gerações que se sucedem. Portanto, não se confunde com as consciências particulares, embora se realize apenas nos indivíduos. É o tipo psíquico da sociedade, tipo que tem suas propriedades, condições de existência, seu modo de desenvolvimento, exatamente como os tipos individuais, embora de outra maneira"
[2][17].

Nas sociedades dominadas pela solidariedade mecânica a consciência coletiva abrange a maior parte dos membros desta sociedade. Nas sociedades dominadas pela solidariedade orgânica há uma redução desta consciência coletiva porque os indivíduos são diferenciados. Por isso, nesta última, em oposição às primeiras, ocorre um enfraquecimento das reações coletivas contra a violação das proibições sociais e há, especialmente, uma margem maior na interpretação individual dos imperativos sociais.


Durkheim defende também o primado da sociedade sobre o indivíduo:

 As sociedades têm prioridade histórica sobre os indivíduos
 As sociedades têm prioridade lógica sobre os indivíduos, porque se a solidariedade mecânica precede a solidariedade orgânica, não se pode explicar a diferenciação social a partir dos indivíduos, pois a consciência de individualidade não pode existir antes da solidariedade orgânica e da divisão do trabalho social.
Daí que os fenômenos individuais devem ser explicados a partir da coletividade, e não a coletividade pelos fenômenos individuais. Donde a divisão do trabalho ser um fenômeno social que só pode ser explicado por outro fenômeno social, como a combinação do volume, densidade material e moral de uma sociedade, sendo que o único grupo social que pode proporcionar a integração dos indivíduos na coletividade é a corporação profissional.


Os cruzamentos teóricos de Emile Durkheim

Em outra importante obra, publicada em 1912, As Formas Elementares da Vida Religiosa, E. Durkheim propõe a elaboração de uma teoria geral da religião fundamentada nas formas mais simples e primitivas das instituições religiosas. Durkheim acredita, assim, que se possa apreender a essência de um fenômeno social observando suas formas mais elementares. Por isso parte do estudo do totemismo nas tribos australianas, chegando à conclusão de que os homens adoram uma realidade que os ultrapassa, que sobrevive a eles, mas que esta realidade é a própria sociedade sacralizada como força superior. Nem as forças naturais, nem os espíritos, nem as almas são sagradas por si mesmas. Só a sociedade é uma realidade sagrada por si mesma. Pertence à ordem da natureza, mas a ultrapassa. É ao mesmo tempo causa do fenômeno religioso e justificativa da distinção entre sagrado e profano. Para Durkheim, qualquer crença ou prática religiosa é semelhante às práticas totêmicas.

Mas por que a própria sociedade torna-se objeto de crença e culto? Durkheim explica: "De maneira geral, não há dúvida de que uma sociedade tem tudo o que é preciso para despertar nos espíritos, unicamente pela ação que ele exerce sobre eles, a sensação do divino; porque ela é para os seus membros o que um deus é para os seus fiéis. Um deus, com efeito, é antes de tudo um ser que o homem imagina, em determinados aspectos, como superior a si mesmo e de quem acredita depender. Quer se trate de personalidade consciente, como Zeus ou Javé, ou então de forças abstratas como as que estão presentes no totemismo, o fiel, tanto num caso como no outro, acredita-se obrigado a determinadas maneiras de agir que lhe são impostas pela natureza do princípio sagrado com o qual se sente em relação. Ora, a sociedade também alimenta em nós a sensação de contínua dependência. Como tem natureza que lhe é própria, diferente da nossa natureza de indivíduo, ela visa a fins que lhe são igualmente especiais: mas, como só pode atingi-los por nosso intermédio, reclama imperiosamente nosso concurso. Ela exige que, esquecidos de nossos interesses, nos tornemos seus servidores e nos impõe toda espécie de incômodos, de privações e de sacrifícios sem os quais a vida social seria impossível. É por isso que a cada instante somos obrigados a nos submeter a regras de comportamento e de pensamento que não fizemos nem quisemos, e que às vezes são até contrárias às nossas tendências e aos nossos instintos fundamentais.

Todavia, se a sociedade só obtivesse de nós essas concessões e esses sacrifícios por imposição material, não poderia despertar em nós senão a idéia de força física à qual devemos ceder por necessidade, e não a idéia de força moral do gênero das que as religiões adoram. Mas na realidade, o domínio que ela exerce sobre as consciências vincula-se muito menos à supremacia física de que tem o privilégio do que à autoridade moral de que está investida. Se nos submetemos às suas ordens, não é simplesmente porque está armada de maneira a triunfar das nossas resistências, é, antes de tudo, porque constitui o objeto de autêntico respeito"[3][18].

Em As Regras do Método Sociológico, de 1895, Durkheim propõe, com sua sociologia formular uma teoria do fato social, demonstrando que pode haver uma ciência sociológica objetiva e científica, como nas ciências físico-matemáticas.
Para que haja tal ciência são necessárias duas coisas: um objeto específico que se distinga dos objetos das outras ciências e um objeto que possa ser observado e explicado, como se faz nas ciências.

Daí duas outras importantes afirmações de Durkheim:

 Os fatos sociais devem ser considerados como coisas

 Os fatos sociais exercem uma coerção sobre os indivíduos.

E explica: "É um fato social toda a maneira de fazer, fixada ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coação exterior; ou ainda, que é geral no conjunto de uma dada sociedade tendo, ao mesmo tempo, uma existência própria, independente das suas manifestações individuais"[4][19].

E na conclusão deste mesmo livro resume as características deste método sociológico: "Em primeiro lugar, é independente de qualquer filosofia (...) Em segundo lugar, o nosso método é objetivo. É totalmente dominado pela idéia de que os fatos sociais são coisas e devem ser tratados como tais (...) Mas, se consideramos os fatos sociais como coisas, consideramo-los como coisas sociais. A terceira característica do nosso método é ser exclusivamente sociológico (...) Mostramos que um fato social só pode ser explicado por um outro fato social e, simultaneamente, como este tipo de explicação é possível assinalando no meio social interno o motor principal da evolução coletiva (...) Tais nos parecem ser os princípios do método sociológico"[5][20].

[1][16]. Cf. ARON, R., As etapas do pensamento sociológico, São Paulo, Martins Fontes/Editora da UnB, 19872, pp. 295-375.
[2][17]. DURKHEIM, E., De la division de travail social, Paris, PUF, 1960, p. 46 ou em http://gallica.bnf.fr/Fonds_Frantext/T0088267.htm, p. 46.
[3][18]. DURKHEIM, E., As Formas Elementares da Vida Religiosa, pp. 260-261.
[4][19]. DURKHEIM, E., As Regras do Método Sociológico, pp. 92-93.