terça-feira, 1 de julho de 2008

Família Brasileira

Tela de Tarsila do Amaral - A FAMÍLIA



CONCEITO HISTÓRICO DE FAMÍLIA

O termo “família” é derivado do latim “famulus”, que significa “escravo doméstico”. Este termo foi criado na
Roma Antiga para designar um novo grupo social que surgiu entre as tribos latinas, ao serem introduzidas à agricultura e também na escravidão legalizada. No direito romano clássico a "família natural" cresce de importância - esta família é baseada no casamento e no vínculo de sangue. A família natural é o agrupamento constituído apenas dos cônjuges e de seus filhos. A família natural tem por base o casamento e as relações jurídicas dele resultantes, entre os cônjuges, e pais e filhos. Se nesta época predominava uma estrutura familiar patriarcal em que um vasto leque de pessoas se encontrava sob a autoridade do mesmo chefe, nos tempos medievais (Idade Média), as pessoas começaram a estar ligadas por vínculos matrimoniais, formando novas famílias. Dessas novas famílias fazia também parte a descendência gerada que, assim, tinha duas famílias, a paterna e a materna.

Com a Revolução Francesa surgiram os casamentos laicos no Ocidente e, com a Revolução Industrial, tornaram-se frequentes os movimentos migratórios para cidades maiores, construídas em redor dos complexos
industriais. Estas mudanças demográficas originaram o estreitamento dos laços familiares e as pequenas famílias, num cenário similar ao que existe hoje em dia. As mulheres saem de casa, integrando a população activa, e a educação dos filhos é partilhada com as escolas. Os idosos deixam também de poder contar com o apoio directo dos familiares nos moldes pré-Revoluções Francesa e Industrial, sendo entregues aos cuidados de instituições de assistência (MOREIRA, 2001, p22). Na altura, a família era definida como um “agregado doméstico (…) composto por pessoas unidas por vínculos de aliança, consanguinidade ou outros laços sociais, podendo ser restrita ou alargada”. Nesta definição, nota-se a ambiguidade motivada pela transição entre o período anterior às revoluções, representada pelas referências à família alargada, com a tendência reducionista que começava a instalar-se reflectida pelos vínculos de aliança matrimonial.

Na cultura ocidental, uma família é definida especificamente como um grupo de pessoas de mesmo
sangue, ou unidas legalmente (como no casamento e na adoção). Muitos etnólogos argumentam que a noção de "sangue" como elemento de unificação familiar deve ser entendida metaforicamente; dizem que em muitas sociedades e culturas não-ocidentais a família é definida por outros conceitos que não "sangue". A família poderia assim se constituir de uma instituição normalizada por uma série de regulamentos de afiliação e aliança, aceitos pelos membros. Alguns destes regulamentos envolvem: a exogamia, a endogamia, o incesto, a monogamia, a poligamia, e a poliandria.

A família vem-se transformando através dos tempos, acompanhando as mudanças religiosas, económicas e sócio-culturais do contexto em que se encontram inseridas. Esta é um espaço sócio-cultural que deve ser continuamente renovado e reconstruído; o conceito de próximo encontra-se realizado mais que em outro espaço social qualquer, e deve ser visto como um espaço político de natureza criativa e inspiradora.
Engels em seu livro Origem da família da propriedade privada e do estado, faz uma ligação da família com a produção material,utilizando do materialismo-hitórico-dialético,relacionou a monogamia como "propriedade privada da mulher".


A FAMILIA COMO UM GRUPO SOCIAL

Como já indicamos anteriormente a palavra "família" deriva do verbete latino "famulus" = 'domésticos, servidores,
escravos, séquito, comitiva, cortejo, casa, família'. A família representa um grupo social primário que influencia e é influenciado por outras pessoas e instituições. É um grupo de pessoas, ou um número de grupos domésticos ligados por descendência (demonstrada ou estipulada) a partir de um ancestral comum, matrimónio ou adoção. Nesse sentido o termo confunde-se com clã. Dentro de uma família existe sempre algum grau de parentesco. Membros de uma família costumam compartilhar do mesmo sobrenome, herdado dos ascendentes directos. A família é unida por múltiplos laços capazes de manter os membros moralmente, materialmente e reciprocamente durante uma vida e durante as gerações.

Podemos então, definir família como um conjunto invisível de exigências funcionais que organiza a interação dos membros da mesma, considerando-a, igualmente, como um sistema, que opera através de padrões transacionais. Assim, no interior da família, os indivíduos podem constituir subsistemas, podendo estes ser formados pela
geração, sexo, interesse e/ ou função, havendo diferentes níveis de poder, e onde os comportamentos de um membro afetam e influenciam os outros membros. A família como unidade social, enfrenta uma série de tarefas de desenvolvimento, diferindo a nível dos parâmetros culturais, mas possuindo as mesmas raízes universais (MINUCHIN,1990).

ESTRUTURAS FAMILIARES

A família assume uma estrutura característica. Por estrutura entende-se, “uma forma de organização ou disposição de um número de componentes que se inter-relacionam de maneira específica e recorrente” (WHALEY e WONG, 1989; p. 21). Deste modo, a estrutura familiar compõe-se de um conjunto de indivíduos com condições e em posições, socialmente reconhecidas, e com uma interacção regular e recorrente também ela, socialmente aprovada. A família pode então, assumir uma estrutura nuclear ou conjugal, que consiste num homem, numa mulher e nos seus filhos, biológicos ou adoptados, habitando num ambiente familiar comum. A estrutura nuclear tem uma grande capacidade de adaptação, reformulando a sua constituição, quando necessário.

Existem também famílias com uma estrutura de pais únicos ou
monoparental, tratando-se de uma variação da estrutura nuclear tradicional devido a fenômenos sociais, como o divórcio, óbito, abandono de lar, ilegitimidade ou adopção de crianças por uma só pessoa. A família ampliada ou consanguínea é outra estrutura, que consiste na família nuclear, mais os parentes directos ou colaterais, existindo uma extensão das relações entre pais e filhos para avós, pais e netos. Para além destas estruturas, existem também as denominadas de famílias alternativas, sendo elas as famílias comunitárias e as famílias homossexuais.

As
famílias comunitárias, ao contrário dos sistemas familiares tradicionais, onde a total responsabilidade pela criação e educação das crianças se cinge aos pais e à escola, nestas famílias, o papel dos pais é descentralizado, sendo as crianças da responsabilidade de todos os membros adultos. Nas famílias homossexuais existe uma ligação conjugal ou marital entre duas pessoas do mesmo sexo, que podem incluir crianças adoptadas ou filhos biológicos de um ou ambos os parceiros. Quanto ao tipo de relações pessoais que se apresentam numa família, Lévi-Strauss, refere três tipos de relação. São elas, a de aliança (casal), a de filiação (pais e filhos) e a de consanguinidade (irmãos). É nesta relação de parentesco, de pessoas que se vinculam pelo casamento ou por uniões sexuais, que se geram os filhos.

Segundo Atkinson e Murray, a família é um sistema social uno, composto por um grupo de indivíduos, cada um com um papel atribuído, e embora diferenciados, consubstanciam o funcionamento do sistema como um todo. O conceito de família, ao ser abordado, evoca obrigatoriamente, os conceitos de papéis e funções, como se têm vindo a verificar. Em todas as famílias, independentemente da sociedade, cada membro ocupa determinada posição ou tem determinado estatuto, como por exemplo, marido, mulher, filho ou irmão, sendo orientados por papéis. Papéis estes, que não são mais do que, “as expectativas de comportamento, de obrigações e de direitos que estão associados a uma dada posição na família ou no grupo social” (STANHOPE, 1999; p. 502).

Relativamente aos papéis dos irmãos, estes são promotores e receptores, em simultâneo, do processo de socialização na família, ajudando a estabelecer e manter as normas, promovendo o desenvolvimento da cultura familiar. “Contribuem para a formação da identidade uns dos outros servindo de defensores e protectores, interpretando o mundo exterior, ensinando os outros sobre equidade, formando alianças, discutindo, negociando e ajustando mutuamente os comportamentos uns dos outros” (Idem; p. 502). Há a salientar, relativamente aos papéis atribuídos que, será ideal que exista alguma flexibilidade, assim como, a possibilidade de troca ocasional desses mesmos papéis, aquando, por exemplo, um dos membros não possa desempenhar o seu.

FUNÇÕES DE FAMÍLIA


Na série de desenho Os Simpsons, que realiza uma satíra da família americana, todos possuem papel definido, Os Simpsons, podem servir como ilustração de uma família tradicional, em que só o pai trabalha, e a mãe fica em casa cuidando da prole; um outro fato interessante é o olhar disciplonador que Os Simpsons possuem com a filha enquanto o Bart Simpson, único filho homem, pode fazer tudo livremente.

Como os papéis, as funções estão igualmente implícitas nas famílias, como já foi referido. As famílias como agregações sociais, ao longo dos tempos, assumem ou renunciam funções de proteção e socialização dos seus membros, como resposta às necessidades da sociedade pertencente. Nesta perspectiva, as funções da família regem-se por dois objectivos, sendo um de nível interno, como a protecção psicossocial dos membros, e o outro de nível externo, como a acomodação a uma cultura e sua transmissão. A família deve então, responder às mudanças externas e internas de modo a atender às novas circunstâncias sem, no entanto, perder a continuidade, proporcionando sempre um esquema de referência para os seus membros (MINUCHIN, 1990). Existe consequentemente, uma dupla responsabilidade, isto é, a de dar resposta às necessidades quer dos seus membros, quer da sociedade (STANHOPE, 1999).

Para SERRA (1999), a família tem como função primordial a de protecção, tendo sobretudo, potencialidades para dar apoio emocional para a resolução de problemas e conflitos, podendo formar uma barreira defensiva contra agressões externas. FALLON [et al.] reforça ainda que, a família ajuda a manter a saúde física e mental do indivíduo, por constituir o maior recurso natural para lidar com situações potenciadoras de stress associadas à vida na comunidade. Deste modo, “(...) a família constitui o primeiro, o mais fundante e o mais importante grupo social de toda a pessoa, bem como o seu quadro de referência, estabelecido através das relações e identificações que a criança criou durante o desenvolvimento” (VARA, 1996; p. 8), tornando-a na
matriz da identidade.

Fonte:. http://pt.wikipedia.org/wiki/Familia

Referências
ALVES, José Carlos Moreira. Direito Romano. Rio: Forense, 1977.
MINUCHIN, Salvador – Famílias: Funcionamento & Tratamento. Porto Alegre: Artes Médicas, 1990. p. 25-69.
SARACENO, Chiara – Sociologia da Família, Lisboa: Estampa, 1997.
STANHOPE, Marcia – Teorias e Desenvolvimento Familiar. In STANHOPE, Marcia ; LANCASTER, Jeanette – Enfermagem Comunitária: Promoção de Saúde de Grupos, Famílias e Indivíduos. 1.ª ed. Lisboa : Lusociência, 1999.
ISBN 972-8383-05-3. p. 492-514.

FAMÍLIA BRASILEIRA


Até recentemente, o modelo de família brasileira correspondia ao modelo patriarcal caracterizado pela consangüinidade e hierarquização de valores, a hierarquia entre os membros da família e a idéia de posse dos pais em relação aos filhos dependentes. Constituem-se aspectos que ainda caracterizam o modelo de família contemporânea brasileira o estabelecimento de normas e regras mais ou menos rígidas, inclusive tendo a dependência como função importante na fertilidade desse terreno; transmitem-se valores, conceitos, costumes, padrões e cultura. Todavia, a Constituição Federal de 1988 representou um avanço no que diz respeito ao conceito de família, considerando a união estável entre o homem e a mulher, bem como a convivência do grupo formado por um dos pais e seus descendentes, como entidades familiares (Art. 226, p. 3º e 4º).
Segundo a Organização Panamericana de Saúde (OPS/OMS), a família desempenha as seguintes funções:
Reprodução e regulação sexual - garantindo a perpetuação da espécie;
Socialização e função educativa - transmitindo a cultura, valores e costumes através das gerações;
Manutenção e produção de recursos de subsistência - determinando a divisão do trabalho de seus membros e condicionando a contribuição para a vida econômica da sociedade.
As nossas famílias contemporâneas guardam muitas nuances do que se pode caracterizar como modelo burguês de família: patriarcal, autoritário, monogâmico, primando pela privacidade, à domesticidade e os conflitos entre sexo e idade. Vários são os conceitos, embora haja convergência entre eles em algum ponto. Todavia, em que pesem os momentos de crise por que passou e passa a sociedade, a entidade familiar tem demonstrado grande capacidade de resistência e de adaptação no que concerne à manutenção do ideal da ordem social, apesar de, por vezes, fragmentada e redimensionada.
A família desempenha um papel primordial na transmissão de cultura. Se as tradições espirituais, a manutenção dos ritos e dos costumes, a conservação das técnicas e do patrimônio são com ela disputadas por outros grupos sociais, a família prevalece na primeira educação, na repressão dos instintos, na aquisição da língua acertadamente materna. Com isso, ela preside os processos fundamentais do desenvolvimento psíquico. A expectativa dos segmentos conservadores da sociedade é de que a família cumpra o papel de transmitir normas e valores sociais que compõem a ideologia dominante naquele momento histórico. Esse caráter perpassa o processo de convivência em família e a perspectiva de vida de cada família e sua colocação na sociedade. Esse ideal, embora imaginário, mantém o grupo familiar coeso, na prática da realidade. O aprendizado do respeito, obediência e submissão aos pais devem ser reproduzidos para o meio externo, aos mais velhos, aos professores e ao Estado, de modo a não criar problemas nas relações sociais.
O estudo em torno da entidade familiar nem sempre produz idéias unânimes e harmoniosas. Por vezes, suscita polêmicas acirradas. Segundo Prado (1995): “A família, como toda instituição social, apresenta aspectos positivos, enquanto núcleo afetivo, de apoio e solidariedade. Mas apresenta, ao lado destes, aspectos negativos, como a imposição de normas e finalidades rígidas. Torna-se, muitas vezes, elemento de coação social, geradora de conflitos e ambigüidades.” Estudos recentes estabelecem um consenso sobre a idéia de que é impossível abolir-se o conflito sob o pretexto da harmonia total, mesmo porque este estado simplesmente paralisaria o movimento incessante da condição humana e suas relações sociais. Nessa perspectiva, o conflito adquire uma dimensão criadora e não destrutiva, não obstante, algumas demolições imponham-se como necessárias dentro do processo de construção de um novo modelo de família.
De acordo com Cartana (apud MAURO, 1998), a família é um sistema semi-aberto, composto por indivíduos ligados por compromisso mútuo (geralmente afetivo) que interagem entre si no desempenho de papéis, e nesse processo, os membros da família transmitem para as gerações futuras a sua cultura, hábitos e modo de vida. Já segundo Prado (1995), família é uma instituição social, variando através da história e apresentando até formas e finalidades diversas numa mesma época e lugar.
Porém, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) estabelece: "entende-se por família natural a comunidade formada pelos pais ou qualquer deles e seus descendentes" (Art. 25).
Ao tornarem-se adolescentes, esse indivíduos sentem necessidade de tornarem-se independentes de seus pais; tornarem-se seres com identidades próprias, vontades e projetos que os representam, mesmo que para isso tenham que contrariá-los. Alguns estudiosos afirmam que o fato de contrariar os pais faz parte do processo de construção da sua própria identidade. Sem precisar radicalizar nesse particular, acreditamos na busca de identidade, sem que para isso o adolescente tenha que romper com a família. Um certo grau de confronto com os pais é comum nesse processo de construir-se a si mesmo, uma vez que a ausência de tais sinais e a perpetuação da dependência são temas de preocupação na relação do adolescente com a família.
Na realidade, ao desenvolver o pensamento, a lógica e a crítica, o adolescente descobre que o mundo não pode mais ser visto através dos olhos dos pais na infância: um mundo harmonioso e colorido no qual, independente do que ocorresse, eles estariam protegidos. Desfaz-se a fantasia dos pais onipotentes, já que não conseguem satisfazer seus anseios e aliviar suas angústias. Ao encontrar outros adolescentes com experiências semelhantes, desloca o eixo de referência para os pares, que em geral, constituem os grupos.
Nesse particular, têm sido motivos de inquietação dos pais a rebeldia do adolescente, o labilidade de humor, o risco que a influência dos amigos pode representar, os problemas escolares e o início da atividade sexual. Nesse processo não se pode falar de sofrimento apenas do filho adolescente. Os pais têm uma sensação de impotência; perdem o poder de decidir por eles, que escolhem o que acreditam ser melhor; colocam-se diante do fato de que o tempo passou, estão mais velhos e na perspectiva de que ficarão sós porque os filhos estão trilhando novos caminhos. Sentem-se substituídos pelos amigos e pelo(a) namorado(a). Seus conceitos são, frequentemente, considerados ultrapassados e sua lógica, não aplicável nos tempos modernos. Apesar disso, não podem perder de vista que continuam sendo família, o ancoradouro para os momentos difíceis em que o meio externo e o grupo não dão conta, e que deve continuar exercendo o apoio, o carinho, a vigilância e a orientação.
Na abordagem à família como um dos espaços do adolescer, deve-se incluir, entre outras questões, a atenção para com o trabalho infanto-juvenil, condições de habitação, segurança, alimentação, esporte, lazer, educação, os direitos sexuais e reprodutivos, a prevenção e o combate ao uso de substâncias psicoativas, prevenção e manejo de situações de violência. A família é parte de uma comunidade constituída de outras famílias, que possui potenciais recursos a serem explorados. O suprimento de todas essas necessidades, entretanto, deve estar inserido dentro de um plano mais amplo que é o da construção da cidadania, a partir da maximização do potencial dos membros da família até que se atinja a condição de família cidadã e, conseqüentemente, de uma comunidade saudável. O conjunto de várias famílias cidadãs determina uma comunidade saudável.
NOTAS PARA DISCUSSÃO

Jornal A FOLHA DE SÃO PAULO - Opinião pública
Disponível:.
http://datafolha.folha.uol.com.br/po/dossie_familia_10111997a.shtml
A Familia Brasileira
Estudar a família brasileira e suas eventuais variações de estrutura e organização exige cautela. A antropóloga Cynthia A . Sarti em seu artigo para "A família Contemporânea Em Debate" sugere elementos que podem compor esse terreno movediço. Segundo ela, a exposição do indivíduo às possíveis transformações dos panoramas social, político, cultural, econômico e biológico alteram os códigos e valores utilizados na interpretação da realidade. Como no mundo contemporâneo a velocidade dessas mudanças é mais expressiva, para uma leitura segura de dados referentes ao tema, tais considerações devem ser potencializadas.
Pesquisa nacional realizada pelo Datafolha entre os dias 12 e 18 de fevereiro investiga a influência desses aspectos sobre o conceito da família brasileira e aponta tendências de conduta e comportamento diante de algumas situações. Por meio das variáveis incluídas no levantamento, também é possível se chegar a um cenário dos níveis de relacionamento em diversos segmentos. As estratificações procuram apontar contrastes de opinião com base nas experiências de cada entrevistado, classificando-os segundo suas condições atuais e localizando-os no tempo pela década na qual viveram sua juventude. As conjunturas correspondentes às épocas propostas nos cruzamentos auxiliam a compreensão de algumas conclusões.
O primeiro resultado que salta aos olhos já justifica a realização da pesquisa: a família, atualmente, é uma das instituições sociais mais valorizadas pelos brasileiros. Numa escala de grau de importância, a maioria a remete à categoria do extremo positivo. Mas, o interessante é discriminar sobre quais bases essa instituição se sustenta e o conceito que a mantém. Os dogmas seriam os mesmos de 10 ou 20 anos atrás? Apesar de detectar algumas mudanças, o estudo traz de volta velhas questões que ultimamente vinham sendo tratadas, senão como definitivamente resolvidas, pelo menos como ultrapassadas. O melhor exemplo é o papel da mulher dentro da família. A constituição básica da família brasileira ainda é nuclear (marido, esposa e filhos), mas esse tipo de estrutura vem perdendo espaço para o esquema matrifocal (percebe-se entre os mais jovens uma elevada taxa de entrevistados que moram apenas com suas mães). Considerando-se tal constatação, é fácil identificar o motivo do crescente prestígio da figura materna e a conseqüente queda na importância atribuída ao pai. No decorrer da análise é possível observar reflexos do panorama gerado por esses dados: entre os integrantes das novas gerações, a valorização dos "laços de sangue" e do casamento ficam abaixo da média; o pai é a pessoa da família com quem menos se conversa; as jovens de hoje procuram muito mais maridos fiéis e compreensivos do que trabalhadores e arrimos. Esses resultados, que podem corroborar as conquistas femininas das últimas décadas, acabam camuflando a resistência expressiva da sociedade em aceitá-las. A grande maioria dos brasileiros prefere que, diante de uma situação financeira favorável, as mulheres fiquem em casa, cuidando dos filhos a que elas saiam para trabalhar fora. Quanto aos códigos de conduta, a cobrança focalizada na mulher é muito mais rígida do que a dirigida aos homens (aceita-se muito mais o pai trair a mãe do que o contrário). A mesma tendência ocorre quando o assunto é a independência feminina. O percentual dos que a aprovam é duas vezes menor daquele que se observada em relação ao homem. Na prática, porém, essa opinião não se estabelece: as mulheres acabam saindo da casa dos pais mais cedo do que os homens. Já nos cruzamentos das perguntas por variáveis sócio-demográficas, destacam-se os contrastes observados nos segmentos de faixa etária. A geração 90, com idade entre 16 e 24 anos, condena muito mais o aborto e a gravidez antes do casamento do que a geração 70, que têm entre 35 e 44 anos. No geral, quando o tema é sexualidade, a geração 70 tende a ser mais liberal. Por outro lado, a geração 90 é mais tolerante às drogas e à violência do que qualquer outro estrato. Os jovens de hoje também preferem o diálogo ao conselho, não formalizam suas uniões e estão tendo filhos mais cedo. Mas nem tudo é conflito. Os brasileiros aprovam o relacionamento que têm com as pessoas de casa, reúnem a família para assistir TV e almoçar nos fins de semana, supervalorizam a fidelidade, costumam falar sobre sexo com seus cônjuges, sobre futebol com os pais, sobre os vizinhos com a mãe e , como não poderia deixar ser, se contradizem em determinados pontos. Apesar de não atribuírem muita importância ao casamento e não considerarem o fato de ter filhos fundamental para a felicidade de um casal, a grande maioria quer viver tais experiências.

A família vem em primeiro lugar na vida dos brasileiros.
Apesar da maioria valorizar a família, apenas 31% classificam o casamento como muito importante.
A maioria dos brasileiros enfatiza a importância da família em suas vidas, mas não demonstra a mesma simpatia pelo casamento. Em um ranking de valores, elaborado pelo Datafolha, a família fica na primeira colocação, empatada com o tópico educação. Ainda foram incluídos no levantamento fatores como trabalho, religião, dinheiro, casamento e lazer. O entrevistado foi solicitado a classificar os itens segundo o grau de importância que atribuía a cada um deles: Família e estudo são considerados muito importantes por 61% dos brasileiros. Em terceiro lugar, com 56%, aparece o trabalho. Na quarta colocação fica a religião, com 38%. A importância do dinheiro é enfatizada por 36%.




Em relação ao casamento, essa taxa é de apenas 31%. O lazer aparece em último lugar, com 28%. A valorização da família é mais expressiva entre as mulheres (64% contra 57% entre os homens), os mais jovens (63%), os que possuem renda familiar de 10 a 20 salários mínimos (72%), os que têm escolaridade acima da média (71%) e os que se declaram descendentes de alemães (75%). É interessante notar que entre os separados, o grau de importância atribuído ao estudo e ao trabalho (64% e 60%, respectivamente) supera o da família (57%). Já, entre os viúvos e casados , ela vem em primeiro lugar.
Pode-se observar também que quanto maior o número de filhos, menor é o grau de importância atribuído à família. No estrato dos que têm cinco filhos ou mais, o estudo e o trabalho a superam em quatro e dois pontos percentuais, respectivamente. O casamento, que fica na penúltima colocação do ranking , encontra suas taxas mais expressivas de valorização entre os que moram nas cidades do interior (33% contra 28% dos que habitam as regiões metropolitanas), entre os que se dizem descendentes de espanhóis (38%), entre os homens (33% contra 29% entre as mulheres), entre os que hoje são viúvos (40%) e entre os que têm filhos (33%). Entre os casados, essa taxa é de 36% e entre os separados, ela cai para apenas 21%.
Focalizando-se as diferentes gerações contempladas no estudo, definidas com base na década em que os entrevistados completaram 16 anos, nota-se que a partir dos anos 70, a percepção de importância da família cresce significativamente. As gerações de 80 e 90 tendem a valorizá-la com maior ênfase (64% e 63%, respectivamente). Por outro lado, o casamento encontra simpatizantes mais freqüentes nas gerações anteriores. Entre os que foram jovens nos anos 40 ou anteriormente, o índice de importância do casamento chega a 45%, caindo para 28% nos anos 70 e 30% entre os integrantes da geração 90.

2 comentários:

Anônimo disse...

legal...
mas não ajudou!!!
obrigado

Anônimo disse...

Podia resumir +.!!!!! Ta mto grande assim.!!*-*