quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Opinião de Rafael Martins Liberato 2.D, sobre o filme "O povo brasileiro"




Sobre o Filme o Povo Brasileiro




Por Rafael Martins Liberato 2.D




O documentário demonstra, sob uma perspectiva histórica e antropológica, a formação do povo brasileiro a partir da fusão de múltiplas etnias, em um processo complexo de miscigenação que transcende muito à questão meramente biológica e assume diferentes conotações, entre as quais se destaca a sócio-cultural. A partir dessa fusão, nasce um povo com características mistas, por vezes até mesmo ambíguas, e que não se identifica completamente com nenhuma das etnias milenares que lhe deram origem, constituindo-se, dessa forma, como algo completamente novo.
Os primeiros brasileiros, sendo a maior parte oriunda do cruzamento entre europeus e índias, nasceram sem ter uma identidade cultural definida. Olhavam para seus pais e mães e não sabiam ao certo qual deles tomar como referência. Nesse contexto de ausência de referenciais, era como esses indivíduos fossem "ninguém". E é justamente dessa "ninguendade" que nascem todas as perspectivas para a construção de uma identidade nacional para o povo brasileiro. Note-se que esse neologismo, empregado por Darcy Ribeiro, demonstra que a própria linguagem, um dos fatores mais importantes que caracterizam uma cultura, não é um elemento estático, pois está em constante mudança a partir de um processo dialético de evolução que ocorre na medida em que nação brasileira, bem como todos os elementos culturais que passam a caracteriza-la, concretiza-se. A riqueza da nossa língua é um relfexo direto da nossa riqueza cultural. Além dos europeus e dos indígenas, a etnia africana contribuiu de forma decisiva para a ocorrência desse processo. Juntos, esses três grandes grupos étnicos compuseram a base de tudo aquilo que hoje nos identifica enquanto povo. A mestiçagem ocorrida entre eles não foi apenas genética. Na verdade, o caráter biológico se torna secundário a partir do momento em que notamos que a fusão mais importante se deu no campo sócio-cultural. É daí que deriva, nos estudos históricos e antropológicos, a prepoderância do conceito de "etnia" sobre o de "raça"
Além de ter se originado de povos completamente distintos, a nação brasileira sofre ainda outra grande dificuldade para o estabelecimento de uma identidade própria e unificada. Refiro-me à enorme disparidade sócio-econômia (e até mesmo cultural) existente entre as diferentes regiões do Brasil. Essas diferenças são fruto da heterogeneidade que caracterizou a nossa colonização.
Com processos de formação histórica diferentes, é evidente que cada região assumiu suas peculiaridades, bem como dinâmicas de desenvolvimento distintas. Portanto, estabelecer uma única identidade que caracterize bem a todos nós, brasileiros, é extremamente difícil. Como foi dito no documentário, nossa cultura é como uma "colcha de retalho".
Torna-se, dessa forma, fundamental saber como e de que forma devemos buscar essa identidade, que na verdade subdividi-se em diversas identidades. Uma coisa é certa, precisamos superar a ideologia retrógrada que nos considera "inferiores" por termos "herdado a indolência do português, a preguiça do índio e a malandragem do negro". Não somos um povo "puro" (até por que o próprio conceito de "pureza" étnica é completamente falho, quando analisamos que "misturas" de etnias ocorreram durante toda a história da humanidade) , mas a nossa "impureza" de forma alguma nos inferioriza. É justamente na nossa diversidade que reside nossa maior riqueza cultural. A grande questão é saber utilizar essa riqueza para garantir a construção de um país mais desenvolvido em todos os aspectos. Mas para olhar para o futuro, e saber onde estamos pisando, é fundamental que consigamos compreender o nosso passado.

Um comentário:

MeNina disse...

Estou sem palavras. Muito bem escrito, muito bem elaborado, muito bem explicado. Fantástico!