COLÉGIO INSTITUTO SOCIAL DA BAHIA
Disciplina: Sociologia – 2ª ANO
Prof. Antonio Mateus de C. Soares
http://www.sociologiaisba.blogspot.com
Sociedade e Sociologia
Instituições I - SOCIEDADE: AFINAL DO QUE SE TRATA?
O conceito de sociedade é polissêmico e pode ser definido de diversas formas, entretanto suas problematizações conceituais não podem deixar escapar que o entendimento mais coerente da sociedade se instaura no momento em que a percebemos como uma rede de relações entre indivíduos, grupos sociais e instituições. Para Thomas Bottomore (1979), “a sociedade é uma rede de relações entre indivíduos, entre grupos sociais e instituições”. Por isso se analisa a sociedade tanto no nível das relações entre indivíduos na sua vida cotidiana como no nível da forma ou estrutura de tais relações, posto que estas aparecem personificadas nos contextos de normas e regras que regulam a vida social.
A sociedade se inicia e se esgota no individuo como um conjunto de partes que interagem e se constituem, ou seja, o individuo é integrante da sociedade, se constitui na sociedade e se reproduz em um processo dinâmico de reinvenções: a sociedade que é produzida pela relação entre os indivíduos tem como instrumento de objetivação e explicitação o próprio indivíduo que passa a ser reprodutor e reflexo da sociedade. O indivíduo isolado não constitui a sociedade, mas por mais complexo que isto possa parecer, o indivíduo isolado em sua constituição passou por instituições e por formatações sociais que implicaram numa relação tênue e quase indissociável entre as categorias de INDIVIDUO e COLETIVO, que se instauram e se mostram presente nas macros e micros instituições sociais.
Indivíduo
Circuitos e Redes Sociais
SociedadeA sociedade se institui a partir de circuitos e redes sociais que interagem e mantêm uma articulação similar ao do organismo humano, (apesar de alguns teóricos sociais serem contra a analogia a mesma se faz necessária por sua capacidade analítica). Deste modo, a sociedade como um organismo humano trabalha de forma integrada, o sistema orgânico biológico é substituído pelos sistemas institucionais que se organizam e se articulam de forma a buscar produzir um melhor funcionamento social. Como um organismo em transformação permanente a sociedade se forma a partir de micro e macro estruturas sociais que acompanham as mudanças humanas em seu transcurso histórico: portanto, a sociedade deve ser estudada em seu desenvolvimento histórico e não como um simples grupo de gente ou um conjunto de instituições existentes num dado momento.
A definição de sociedade é infindável e rica em possibilidades de problematização, assim apresentamos os conceitos de Allan G. Johnson (1997) – Guia Prático da Linguagem Sociológica:
SOCIEDADE: Sociedade é um tipo especial de sistema social que, como todos os sistemas sociais, distinguem-se por suas características culturais, estruturais e demográficas/ecológicas. Especificamente, é um sistema definido por um território geográfico (que poderá ou não coincidir com as fronteiras de Nações- Estado), dentro do qual uma população compartilha de uma cultura e estilo de vidas comuns, em condições de autonomia, independência e auto-suficiência relativas. É necessário especificar “relativa”, porque se trata de questões de grau no mundo moderno, de sociedades interdependentes. É seguro dizer, no entanto, que elas figuram entre os mais autônomos e independentes de todos os sistemas sociais.
SOCIAL: O termo social pode ser aplicado a quase tudo que se relaciona com sistemas sociais, suas características e a participação das pessoas neles. Quando dois amigos conversam, seu comportamento é social na medida em que se valem da cultura no que interessa à linguagem, às expectativas recíprocas, à compreensão de ambos do que constitui uma amizade e assim por diante.
A sociedade em seu movimento complexo se instaura como objeto de estudo das Ciências Sociais, em especial da sociologia, que busca compreender os fenômenos sociais a partir de aprofundamentos teóricos e da aplicação de métodos investigativos apropriado com a questão levantada: se a análise se relacionar ao crescimento do desemprego nos países de terceiro humano, certamente as teorização e os métodos da investigação se pautaram na sociologia do trabalho no mundo globalizado; se a curiosidade investigativa busca decodificar os motivos para a compreensão da violência urbana nos grandes centros, os métodos de pesquisa, assim como os aportes teóricos possivelmente seriam outros, ou quem sabe o mesmo, mas com uma análise que atendesse aos interesses e objetivos do foco investigativo em evidência. A sociologia, como campo específico das Ciências Sociais, surge com a finalidade de compreender as questões que se constituem e se expressam na sociedade, não apenas problemas urbanos complexos, como também questões simples da vida cotidiana. A sociologia investiga o senso comum, mas não se deixa contaminar com o imediatismo das análises simplistas que o senso comum promove, buscando sempre aportes científicos e metodológicos.
II – A SOCIOLOGIA NAS CIÊNCIAS SOCIAISAs reflexões mais sistematizadas sobre as análises sociais começaram a ser formuladas no momento em que a sociedade começou a se diversificar, neste sentido, apontamos a Revolução Industrial (1750), iniciada na Inglaterra que deu origem a novos grupos sociais e a novos fenômenos que necessitariam de um campo especifico de investigação. A Revolução Industrial trouxe não só o avanço nos meios tecnológicos e produtivos, mas também uma total reorganização nos estilos de vida social, um alteração radical do ethos da população européia, a gradativa inversão da vida rural que começou a se urbanizar, o aparecimento dos conceitos de burguesia e classe social.
Revolução Industrial
Com as mudanças ocasionadas pelas revoluções ocorridas, diversos pensadores começaram a refletir sobre os novos fenômenos sociais: “A Sociologia constituiu em certa medida uma resposta intelectual às novas situações colocadas pela Revolução Industrial”. Foi no século XIX, com Auguste Comte, Hebert Spencer, Gabriel Tarde e, principalmente Émile Durkheim, Max Weber e Karl Marx – que a investigação dos fenômenos sociais ganhou um caráter verdadeiramente cientifico.
Além da Revolução Industrial, merece destaque a Revolução Francesa (1789), que concorreu para a ascensão da burguesia ao poder e manifestar com maior força os problemas e conflitos sociais. A Revolução Francesa mostrou que a sociedade estava dividida em grupos sociais antagônicas – a nobreza, a burguesia, os burguesia, os camponeses -, que as relações entre esses grupos era de tensão e conflito e que o domínio exercido por qualquer um dos grupos não era permanente. A Revolução Francesa marcou a constituição do Estado burguês e modelou ideologicamente um pensamento social ratificadores da LIBERDADE, FRATERNIDADE, IGUALDADE, ideais iluministas que pontuaram momentos importantes no século XIX e XX.
Revolução FrancesaA sociedade em constante movimento tendia a necessitar de campos especializados para realizar suas análises investigativas, assim as ciências sociais segmentou - se em campos científicos: sociologia, antropologia, economia e ciências políticas, que se articulam com outras áreas das ciências humanas para integrarem um arcabouço crítico sobre a sociedade:
SOCIOLOGIA: Estuda as relações sociais e as formas de associação, considerando as interações que ocorrem na vida em sociedade. A sociologia envolve, portanto, o estudo da estrutura social, dos grupos e das relações sociais, da divisão da sociedade em classes e camadas, da mobilidade social, das instituições , das relações de trabalho, dos processos de cooperação, competição e conflito na sociedade, etc.
ANTROPOLOGIA: Estuda a produção cultural, as semelhanças e as diferenças culturais entre os vários agrupamentos humanos, assim como a origem e a evolução das culturas. São objetos de estudo da Antropologia os tipos de organização familiar, as religiões, a magia, os ritos de iniciação dos jovens, o casamento etc.
ECONOMIA: Tem por objeto as atividades humanas ligadas à produção, circulação, distribuição e consumo de bens e serviços. Portanto, são fenômenos estudados pela Economia as atividades agrícolas e industriais, o comércio, o mercado financeiro, a distribuição da renda, a política salarial, a produtividade das empresas etc.
CIÊNCIA POLÍTICA: Ocupa-se da distribuição de poder na sociedade, assim como da formação e do desenvolvimento das diversas formas de governo. Estuda também os partidos políticos, os mecanismos eleitorais, etc.
Sociologia e Antropologia: Olhares diferentes sobre a sociedadeDizer que as Ciências Sociais tratam do estudo dos fenômenos sociais e do desenvolvimento de sociedades sugere um campo muito vasto de atuação. E de fato é. De acordo Luís de Gusmão, várias definições poderiam ser utilizadas para as Ciências Sociais. “Pela resposta padrão, é o campo da investigação acadêmica que procura compreensão científica do mundo social“, explica. Tão difícil quanto uma definição mais específica é estabelecer com exatidão a fronteira entre suas duas grandes ramificações, a Sociologia e a Antropologia. Muita gente chega a se graduar sem ter compreendido com clareza a distinção. “Na verdade, o objeto de ambas as ciências é o mesmo. O que varia é a abordagem, a metodologia”. É forte no senso comum o mito de que a “antropologia estuda os índios” e a sociologia analisa a sociedade moderna. Em linhas gerais, observando-se as definições tradicionais, a Sociologia, de grande abrangência, objetiva fornecer uma visão de conjunto dos vários acontecimentos da vida social, sejam eles relativos à economia, à política ou à esfera simbólica e cultural. A Antropologia procura descrever o homem e analisá-lo com base nas características biológicas e culturais dos grupos em que se distribui, enfatizando as diferenças e variações entre eles.
QUESTÕES PARA REFLEXÃO:
1- Como as revoluções fertilizaram o campo das ciências sociais? E quais os fenômenos sociais oriundos destas revoluções?
2- Por que é imprescindível a relação entre a sociologia os outros campos científicos?
3- É possível diferenciar os campos científicos das ciências sociais?
4- Como as ciências sociais analisam as questões e os fenômenos sociais?
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
BOTTOMORE, Thomas. In: MARQUÉS, J., MOLLÁ, D., SALCEDO, S. A Sociedade Atual. Rio de Janeiro: Salvat Editora do Brasil, 1979, p.9. Coleção Biblioteca Salvat de Grandes Temas.
OLIVEIRA, Pérsio Santos. Introdução à Sociologia. São Paulo: Editora Ática, 2008
JOHNSON, Allan, G. Dicionário de Sociologia – Guia Prático da Linguagem Sociólogica: Rio de Janeiro: Ed. Jorge Zahar, 1997.